Economia

Confiança de empresários incentiva projetos para o parque produtivo

Confiança maior dos empresários faz com que projetos para o aumento do parque produtivo deslanchem. Mas é preciso que o governo também faça a sua parte, ao dar andamento às reformas estruturais, em especial, à tributária, para simplificar o sistema de impostos do país

Correio Braziliense
postado em 06/01/2020 06:00
Confiança maior dos empresários faz com que projetos para o aumento do parque produtivo deslanchem. Mas é preciso que o governo também faça a sua parte, ao dar andamento às reformas estruturais, em especial, à tributária, para simplificar o sistema de impostos do paísDepois de anos em contração, os investimentos produtivos têm tudo para puxar o crescimento da economia para cima em 2020. Tanto o governo quanto o setor privado acreditam que, enfim, está chegando a hora de tirar das gavetas os projetos de expansão dos negócios que ficaram mofando por total falta de confiança na capacidade do país de sair do atoleiro ao qual foi jogado pela mais severa recessão da história. Para a equipe econômica, a retomada dos investimentos virá, sobretudo, dos programas de concessões e de privatizações, que não decolaram em 2019 — a estimativa é de que mais de 100 estatais sejam vendidas. Entre os empresários, o consenso para que o quadro de expansão mais forte do Produto Interno Bruto (PIB) se consolide passa pela continuidade das reformas, a começar pela tributária.

O otimismo se reflete nas projeções do Banco Central, que elevou de 2,9% para 4,1% a expectativa de aumento dos investimentos — Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no jargão econômico —, sinalizando retomada mais forte desse indicador, que foi o primeiro a registrar queda antes da recessão, em 2013. O investimento é o principal motor para o crescimento sustentado da economia. No Brasil, ainda é muito baixo em proporção do PIB, estando longe do pico de 20,9% alcançado sete anos atrás. A perspectiva é de que, entre 2019 e 2020, tenha passado de 15,8% para 16% do PIB, seguindo em alta de até 18,4% em 2028, segundo cálculos da Tendências Consultoria. Nas estimativas da 4E Consultoria, os investimentos só voltarão a ficar acima de 20% em 2030, mas isso não garante um crescimento econômico contínuo acima de 3% ao ano.

Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta que a taxa de investimento do início da década, perto de 22% do PIB, era artificial e, portanto, será difícil recuperá-la tão cedo. “Aquele investimento era resultado da má alocação de recursos por parte do governo, com custo fiscal muito alto, o qual, por sinal, estamos pagando até hoje, vide o desequilíbrio das contas públicas. Mas a boa notícia é que a retomada dos investimentos é uma realidade”, afirma.

Ela vê com bons olhos esse movimento, ainda que seja gradual. “O investimento deverá ter uma aceleração, que começamos a ver em 2019, com a recuperação da construção civil, que saiu do terreno negativo e cria mais otimismo para 2020. O bom é que esse crescimento não ocorre apenas em São Paulo. Há um vigor generalizado em várias regiões”, destaca Sílvia. Segundo ela, no entanto, parte do avanço do PIB virá da redução da capacidade ociosa da indústria, que sofreu demais com a recessão e o pessimismo de empresários e consumidores.


Condições

Otimismo à parte, o empresariado impõe uma série de condições para ampliar as fábricas e, por tabela, o emprego. Além da continuidade das reformas estruturais, pregam a arrumação definitiva das contas públicas. Para os donos do dinheiro, a aprovação da reforma da Previdência no ano passado foi passo importante para a continuidade do ajuste fiscal, mas é preciso mais, pois a previsão é de que o país só volte a ter contas no azul em 2022. Não é só. Os empresários também defendem a manutenção das taxas de juros em níveis baixos. A taxa básica (Selic) está em 4,5% ao ano, permitindo que o custo do crédito ao setor produtivo caísse muito.

Outro ponto relevante para que os investimentos na ampliação dos negócios não fique na promessa: a estabilidade das regras. Como se sabe, ao longo dos últimos anos, os empresários foram surpreendidos por uma série de medidas intervencionistas por parte do governo, que criaram insegurança jurídica. Há, ainda, a defesa para a preservação do meio ambiente, pois a piora da imagem do Brasil nesse quesito inibe a entrada de recursos estrangeiros no país e fecha portas para produtos nacionais. E, claro, a melhora do mercado externo, já que o acirramento de conflitos, como o que se vê entre os Estados Unidos e o Irã, eleva o custo do petróleo e desestabiliza os preços das principais moedas.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a confiança maior dos empresários já pode ser vista no setor da construção. “Esse segmento está retomando as forças de forma mais intensa. Isso pode ser medido pelo aumento das vendas de cimento, um indicador antecedente importante. Vemos um crescimento bem razoável espalhado pelo país, especialmente no Centro-Oeste, no Sul e no Sudeste. Ainda há dificuldade grande no Nordeste em todos os indicadores”, avalia. A construção civil responde por quase a metade da Formação Bruta de Capital Fixo e por boa parte dos empregos menos qualificados.

“O investimento deverá ter uma aceleração, com a recuperação da construção civil, que saiu do terreno negativo e cria mais otimismo para 2020” 
Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV 

 

Máquinas à espera de combustível

Empresas estão prontas para ampliar as fábricas. Mas é preciso que economia consolide o crescimento
Taxa de investimento (em % do PIB)

2008 19,4
2009 19,1
2010 20,5
2011 20,6
2012 20,7
2013 20,9
2014 19,9
2015 17,8
2016 15,5
2017 15,0
2018 15,8
2019* 16,0
2020* 16,6
2021* 16,0
2022* 16,5
2023* 17,0
2024* 17,4
2025* 17,7
2026* 17,9
2027* 18,1
2028* 18,4
(*) Projeções Tendências Consultoria

O que os empresários querem

Veja o que os donos do dinheiro exigem para desengavetar projetos que aumentarão a produção e o emprego
>> Continuidade das reformas estruturais, a começar pela tributária, uma vez que o sistema de impostos no país punem a produção e o consumo.
>> Arrumação das contas públicas. A aprovação da reforma da Previdência foi passo importante para a continuidade do ajuste fiscal, mas é preciso mais. A previsão é de que o país só volte a ter contas nos no azul em 2022.
>> Manutenção das taxas de juros nos níveis mais baixos da história. Com a taxa básica (Selic) em 4,5%, o custo do dinheiro para as empresas caiu muito, barateando os empréstimos e financiamentos.
>> Estabilidade das regras para investimentos. Ao longo dos últimos anos, os empresários foram surpreendidos por uma série de medidas intervencionistas por parte do governo, que criaram insegurança jurídica.
>> Pacificação na política, uma vez que a polarização exacerbada atrapalha o andamento de projetos importantes no Congresso. Pior: faz com que a agenda de costumes de sobreponha à econômica.
>> Preservação do meio ambiente, pois a piora da imagem do Brasil nesse quesito inibe a entrada de recursos estrangeiros no país e fecha portas para produtos nacionais.
>> Melhora do mercado externo, pois o acirramento de conflitos, como o que se vê entre os Estados Unidos e o Irã, elevam o custo do petróleo e desestabilizam os preços das principais moedas.

Confiança da indústria (em pontos)

Índice calculado pela CNI está no nível mais elevado desde junho de 2010
Dez/13 54,3
Dez/14 45,2
Dez/15 36,0
Dez/16 48,0
Dez/17 58,3
Dez/18 63,8
Dez/19 64,3
Fontes: IBGE, CNI e Tendências

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