O início do ano chega com a cobrança de várias contas, muitas inadiáveis. Gastos periódicos, como impostos anuais, matrícula e material escolares, despesas de férias, além de renovações de seguros e custos profissionais dos conselhos de entidades que emitem registro, não dão folga e batem à porta já nos primeiros meses de 2020. Analistas ressaltam a importância de planejamento financeiro a fim de evitar empréstimos ou parcelamentos, que vão encolher o rendimento mensal durante todo o ano.
Professor de finanças pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jurandir Sell Macedo destaca a importância de se programar ainda no fim do ano anterior. Antes de começar a gastar o 13º salário com presentes e viagens, recomenda, é bom separar parte do dinheiro para essas despesas. “É preciso ter em mente que janeiro e fevereiro são meses complicados. Via de regra, as pessoas começam o ano endividadas pelos gastos excessivos nas festas de fim de ano e nas férias. Quem consegue maneirar se dá bem, porque o maior presente é não fazer dívidas”, diz.
A advogada Edilene Brito, 59 anos, se planeja há décadas para não passar apertada nem ter surpresas indesejadas no início do ano. “Eu sempre faço o levantamento das contas feitas em dezembro e organizo os pagamentos para os três primeiros meses do ano seguinte, acrescentando IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), seguro do carro, educação, anuidade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e outros gastos”, afirma. Para Edilene, o que mais pesa no bolso são os impostos e gastos com viagens e educação.
Antecedência
Quem não é tão organizado como a advogada, ainda tem como sair do aperto, orienta Macedo. “As pessoas deveriam começar a fazer as contas no início de dezembro, mas quem não o fez deve colocar no papel tudo o que vai vencer nos próximos meses. A maioria das despesas tem correção, mas, no caso de IPVA e IPTU, o percentual de reajuste é divulgado com antecedência. Mesmo sem o valor correto, é possível fazer projeções”, ressalta.
O IPTU é o tributo cobrado dos proprietários de imóveis e tem seu cálculo baseado a partir do tamanho e do valor de venda do bem. Pode ser parcelado, mas são oferecidos descontos para o pagamento à vista. Além disso, há alguns programas de pontos com abatimento para os contribuintes. Em Brasília, existem o Nota Legal, com desconto no IPTU e IPVA por meio da emissão de notas fiscais. Para se credenciar, quem mora na capital federal deve sempre exigir que o seu CPF ou CNPJ conste no documento fiscal emitido pelo estabelecimento fornecedor ou prestador de serviço. É necessário um cadastro na página da Secretaria de Estado de Fazenda do Distrito Federal (SEF/DF) para acompanhar os créditos e indicar imóvel ou veículo beneficiados, que pode ser feito no site www.notalegal.df.gov.br.
Corrigido segundo a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), o IPTU terá uma atualização monetária de 3,28% sobre o valor de 2019 do terreno e metro quadrado (m²) construído. As alíquotas do IPVA em 2020, de acordo com o Projeto de Lei nº 855/2019, aprovado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, serão reduzidas, de 3,5% para 3% para automóveis com quatro rodas ou mais e, de 2,5% para 2%, no caso de motocicletas. O seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), cobrado com o IPVA, quase foi extinto, depois o governo federal deu desconto de 86%, mas, na terça-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, suspendeu a redução.
“A maior dica parte das prefeituras, que oferecem um desconto elevado para o pagamento à vista. Mesmo se pensarmos em 10%, é muito superior à Selic (taxa básica de juros, hoje em 4,5% ao ano). Se o abatimento for relevante do ponto de vista financeiro, sendo que varia de acordo com o valor do imóvel ou do carro, se o contribuinte tem condições, é sempre a melhor opção pagar à vista”, recomenda o professor de finanças pessoais.
Impacto
Embora os descontos sejam tentadores, alguns analistas orientam considerar se os pagamentos por completo não vão ter impacto negativo no mês. O ideal é que essas despesas sempre sejam cobertas pela renda. “Evite ao máximo pegar dinheiro emprestado, pois, ao começar o ano endividado, a tendência é que endividamento aumente ao longo do ano”, alerta o consultor financeiro da Libratta, Rogério Olegário.
No caso das despesas escolares, também há maneiras de aliviar o acúmulo de gastos no início do ano. A dona de casa Ana Claudia Braz, 40, buscou alternativas para economizar. “Tive a opção de pagar a matrícula dos filhos parcelada ainda em 2019. Dividi em quatro vezes, de setembro a dezembro, já pensando nos outros gastos do início do ano. Consegui desconto de 10%”, conta. Ela também antecipou a compra de material escolar. “No mês de janeiro, além do tumulto e do movimento, os preços sobem”, diz. “Na escola dos meus filhos, irmãos ganham desconto. Negociei desconto de 25% para cada um dos três. Isso, sem dúvidas, vai ajudar muito”, acrescenta. (Colaborou Cristiane Noberto*)
* Estagiárias sob supervisão de Simone Kafruni