;Este ano foi muito bom para o investidor da Bolsa. Essa continuidade de alta vai depender do crescimento da economia. Contudo, é difícil imaginar o mesmo desempenho deste ano em 2020, porque os juros básicos estão baixos, mas não devem cair no mesmo ritmo;, explica Glauco Legat, analista chefe da Necton Investimentos, que prevê a bolsa encerrar o ano que vem em 137 mil pontos. Ele lembra que a entrada de investidores está relacionada com a queda dos juros, pois os retornos ficaram menores na renda fixa. No início de 2016, a taxa básica de juros (Selic) estava em 14,25% ao ano. Neste ano, está em 4,5%, e é provável que se mantenha nesse patamar em 2020.
O analista da Necton ressalta que a retomada de ofertas de ações na bolsa por empresas, sejam primárias (IPOs), sejam secundárias (Follon On), contribuiu para o bom desempenho da B3, o que atraiu os investidores pessoa física. Ele alerta que é preciso escolher bem os ativos, pois o rendimento do Ibovespa, que é uma média das principais ações listadas, não foi o maior entre os indicadores da B3.
O Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX) teve valorização de 35%, embalado pela retomada do mercado de construção e do aluguel de imóveis. ;Esses fundos costumam pagar dividendos que tiveram uma margem de ganho de 6,5%. Isso poderá se repetir no ano que vem, algo acima da maioria dos rendimentos de renda fixa, e não incide imposto;, destaca Legat. Segundo ele, as Small Caps (ações com valores baixos) também tiveram um desempenho bem relevante, acima de 50% no ano.
Investir em ações é uma boa opção para aplicações de longo prazo, dizem os especialistas. ;Bolsa de Valores não é cassino, é uma alternativa de investimento;, afirma o professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro. Ele ressalta que o volume de investidores, neste ano, foi recorde, mas entrar na Bolsa não significa ficar rico da noite para o dia.
Na avaliação de Calil, existe a perspectiva de melhora no ano que vem, com possibilidade de correção se houver instabilidade política em um ano eleitoral. ;A economia está em um ritmo interessante e positivo;, destaca. Se o plano de desestatização do governo caminhar, Calil acredita que a Bolsa pode ganhar impulso. Para ele, é preciso uma retomada do consumo e de renda das empresas para manter o ciclo de crescimento. O analista não aposta nos 140 mil pontos da Ibovespa para 2020. ;Para que isso aconteça, a economia precisa responder muito bem. Teria de haver aumento da base das empresas e de ações que a compõe o Ibovespa;, completa
Alexandre Fragoso Arci, educador financeiro e diretor do Instituto Eu Defino, reforça que as perspectivas da Bolsa para 2020 estão embasadas na continuidade da agenda reformista do governo. ;Se houver continuidade nas reformas e redução do Estado no mercado, teremos uma boa perspectiva de ganhos na renda variável;, afirma. Ele aposta em novos recordes do Ibovespa. ;Podemos ter alguma volatilidade por causa da eleição nos Estados Unidos, mas, mantendo as reformas e o crescimento, atingir 140 mil pontos é possível;, estima.
O especialista orienta o investidor a buscar oportunidades para melhorar o retorno. ;Hoje, dependendo do investimento, o aplicador pode ter retorno negativo. Portanto, é preciso buscar a renda variável;, conta Arci. Para ele, é necessário começar aos poucos e entender como funciona o mercado de ações. ;Coloque uma pequena parte do capital para ver como é. Depois aumente os aportes, pois há espaço para o crescimento do mercado de ações;, recomenda.
Influência
Gabriel de Faria, estudante de computação, 24 anos, acompanha o pai operar na Bolsa desde os 12 anos. Aos 18, recebeu um dinheiro dos pais. ;Isso me fez querer aprender a cuidar do meu patrimônio.; Gabriel começou com renda variável. ;Eu topei correr risco;, conta. Ele reconhece a sorte de entrar em um período de crescimento. ;Saber poupar e investir é para vida toda;, ensina.
Cristiano Ferreira, 33, é empresário e diz que passou a ter contato com investimentos em 2016. Começou com ações em corretoras autorizadas que não cobram corretagem. Teve experiência com Tesouro Direto e fundos imobiliários. ;Acredito que educação financeira deveria ser disciplina básica no currículo do ensino formal do Brasil;, afirma. ;É um mito precisar de muito dinheiro para começar a investir. As pessoas estão começando a descobrir que podem aplicar qualquer valor.;
* Estagiário sob supervisão de Simone Kafruni