Do ponto de vista dos negócios, como 2019 será lembrado?
Tivemos um bom ano. Os números da bolsa em geral foram muito positivos. Várias emissões de dívidas, várias emissões de ações. No contexto geral, o volume negociado cresceu bastante, e a BGC conseguiu capturar esse movimento. O crescimento foi muito representativo em equity, principalmente. Não posso abrir muitos números, mas em equity crescemos acima de três dígitos. Em receita no Brasil, ficou acima de dois dígitos.
O que motivou um número tão expressivo de investidores a migrar para a bolsa?
Com certeza foi o juro real próximo de zero. Há um movimento estrutural de saída de recursos de poupança e de renda fixa para multimercado e ações. Todos os investidores estão buscando maior rentabilidade.
Mas a queda nos juros não foi reflexo também de uma economia apática, sem crescimento da atividade produtiva e do consumo?
Também. A economia desaquecida, com o hiato do PIB bem aberto ainda, se reflete na inflação. Essa é mais uma variável para os juros continuarem baixos. Esta é a variável A. Mas a variável B é, claramente, a reforma da previdência. Com a aprovação, o Brasil voltou a ser fiscalmente solvente. Naturalmente, isso é um fator que puxa a estrutura da curva de juros para baixo. Foram esses dois temas principais que explicam esse cenário.
Quais são suas projeções ara 2020?
Estamos projetando um crescimento de 2% para o PIB, com viés de alta, com uma inflação de 3,7% e câmbio ao redor de R$ 4. O que pode mudar isso, para baixo, é uma crise política que ninguém está antevendo. Talvez uma crise americana desfavorável para o mercado, algum ruído político ou escândalo que possa mudar o humor geral. Internamente, só um black swan (cisne negro) político pode atrapalhar. Mas isso não está no nosso radar.
Há motivos para se preocupar com ruídos políticos no Brasil?
Os investidores conseguem hoje distinguir o que é ruído daquilo que não é ruído. No Brasil, o mercado aprendeu a separar a economia da política. Afinal, na política sempre vai ter ruído. A política é a arte do possível. Então, não existe política sem ruídos.
Qual o balanço do primeiro ano do presidente Jair Bolsonaro?
O presidente fez um bom trabalho em isolar e deixar trabalhar sua equipe econômica, seja o ministro da Infraestrutura, seja o ministro da Economia. As privatizações, as concessões, o processo de desburocratização, as reformas e a estabilidade monetária avançaram. Então, houve uma certa blindagem dos ministérios mais essenciais. Isso foi o grande pilar que sustentou as expectativas do mercado.
A separação entre economia e política é, geralmente, uma característica de país desenvolvido?
Sem dúvida. Veja o exemplo dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump está respondendo a um processo de impeachment, mas parece que nada está acontecendo na economia do país. Os ativos estão em alta histórica. Agora, no Brasil, não posso afirmar que esse descolamento entre economia e política é uma tendência de longo prazo. Tudo vai depender do nível da polêmica. Mesmo que o mercado esteja separando bem o que é ruído e o que é fundamento, o descolamento tem limite.
Na avaliação dos investidores estrangeiros, qual é o maior entrave para que ingressem de vez no Brasil?
Esse tema está em todas as reuniões que temos com o mercado. O problema é que Brasil compete hoje com outras classes de ativos de investimento. Neste ano, o S subiu mais que a bolsa no Brasil. A Nasdaq também. Então, o investidor analisa se compensa gastar a ;hora-homem; dele em uma economia como a do Brasil, em que é preciso ter um grau de detalhamento maior e mais complexo. No mercado americano, o crescimento é mais fácil, mais transparente e mais líquido. É um país mais estável e seguro. O Brasil tem gargalos a serem resolvidos.