Economia

Juros baixos afetam renda fixa e levam investidores a assumir mais riscos

Com a taxa Selic no menor patamar da história, renda fixa perde atratividade e investidor precisará buscar aplicações mais arrojadas para obter retornos maiores

Gabriel Pinheiro*, Anna Russi
postado em 29/12/2019 07:57

Com a taxa Selic no menor patamar da história, renda fixa perde atratividade e investidor precisará buscar aplicações mais arrojadas para obter retornos maioresO brasileiro vive uma nova realidade com a taxa de juros básica (Selic) mais baixa. Com a reforma da Previdência, ele precisará poupar por mais tempo e ainda buscar formas de investimentos arrojadas para conseguir retornos maiores. Caderneta de poupança, fundos de renda fixa e títulos públicos começam a perder para a inflação. Logo, o investidor nacional, que é tradicionalmente conservador e apostava nessas aplicações, vai ter que correr um pouco mais de risco, sobretudo, no mercado de ações, para não perder dinheiro, avisam os especialistas.

Atualmente, a Selic está em 4,5% ao ano, o menor da história. Descontada a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e estimada pelo mercado, em 3,98% anuais, os juros reais caem para 0,52% ao ano a partir do ano que vem. Para quem precisa fazer empréstimo, isso é positivo, pois o custo do dinheiro tende a ficar menor se as instituições financeiras começarem a oferecer crédito mais barato, uma oportunidade para quem sonha com a casa própria. Mas o rentista que quiser embolsar o que ganhou há três anos com títulos públicos, vai precisar aplicar por mais tempo. Na poupança, o rendimento já começa a perder até para a inflação.

Especialistas orientam que é importante pesquisar bastante e escolher as aplicações que mais se encaixam no perfil e nos objetivos de curto, médio e longo prazos. Eles alertam que, no caso de fundos, é preciso ficar atento às taxas de administração e de performance que costumam ser cobradas e que podem acabar corroendo os ganhos do pequeno investidor.

Myrian Lund, professora de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta que, da perspectiva do investidor, o país tem mudado positivamente. ;Nos Estados Unidos, as taxas são até mais baixas do que no Brasil. Mas estamos vivenciando agora um cenário de país estável, com inflação e juros baixos;, explica. ;É uma conjuntura internacional. Vivíamos um modelo artificial. Pagamos caro, indiretamente, para sustentar os juros altos que eram remunerados pelos títulos públicos. Agora estamos dentro da normalidade;, completa.

A professora destaca que os brasileiros sempre investiram no conforto da renda fixa, mas agora precisam mudar os hábitos. ;Quando estamos falando da aposentadoria ou de imóveis, o dinheiro precisa render acima da inflação. Nunca aprendemos isso. É um novo paradigma para todo cidadão brasileiro que lida com investimento;, explica. Com esse novo panorama, pesquisa e planejamento são necessários para quem for investir na renda variável, pois há três riscos no caminho. O primeiro deles é o de não ter liquidez diária, ou seja, a falta do recurso para uma emergência. O segundo é o de crédito: a possibilidade de perdas associadas ao não cumprimento pela contraparte. Outro risco é o de mercado, em que a rentabilidade fica à mercê das variações da Bolsa.

Assessora de investimentos em Campo Grande, Ana Ferraz, avalia que, no momento atual, para começar a investir, é preciso assumir riscos, em decorrência da nova realidade dos juros baixos, como investir em bolsa e diversificar em vários tipos de fundos. Ela, por exemplo, só investe em ações. ;Eu prezo muito pelo longo prazo, por conta do quadro positivo da nossa economia. Na hora de investir o seu dinheiro e fazer ele render, é preciso um objetivo;, afirma. Já a professora da FGV aconselha que o brasileiro estude mais sobre a situação econômica do país antes de investir. ;A lição seria a de não colocar todos os ovos na mesma cesta, por isso temos que aprender a investir de formas variadas para poder ganhar um pouco mais;, destaca.

Planejamento
A professora de educação física Lorena Cruz, 29 anos, conta que, em 2017, outro professor falou sobre o teto da Previdência e ela percebeu que se aposentaria ganhando menos do que o previsto investindo apenas em renda fixa. A partir daí, foi atrás de informações sobre investimentos na internet. ;Na renda fixa eu percebi que demoraria muito para ter algum retorno, então, eu comecei a ter pressa e fui para a renda variável;, afirma.

Lorena conta que procurou aplicações em ações e em fundos imobiliários para substituir os investimentos em renda fixa feitos anteriormente. ;Gostaria de ter me preocupado com isso desde a adolescência. Eu comecei dessa forma porque era menos arriscado. Agora, com a taxa Selic caindo, percebi que demoraria muito para obter um rendimento muito baixo;, compara. Para ela, os riscos valem a pena para construir uma aposentadoria melhor.

Marcos Sarmento Melo, diretor da Valorum Gestão Financeira, acredita que os desafios para 2020 para os investidores estão totalmente ligados à taxa de juros, que devem influenciar muito na tomada de decisão. ;Com a Selic em 4,5% ao ano, é preciso aplicar parte dos recurso em investimentos que tenham mais risco.; Segundo ele, é preciso muito planejamento antes de tomar crédito ou investir. Consultar um especialista ou aplicativos de planejamento financeiro são válidos. ;Não convém tomar empréstimo para comprar qualquer coisa. Se o consumidor puder separar 10% a 15% do salário e guardar, faria um efeito tremendo na família e permitiria a ele usar melhor os recursos;, explica.

Com a taxa Selic no menor patamar da história, renda fixa perde atratividade e investidor precisará buscar aplicações mais arrojadas para obter retornos maiores

Com a taxa Selic no menor patamar da história, renda fixa perde atratividade e investidor precisará buscar aplicações mais arrojadas para obter retornos maiores

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