Jornal Correio Braziliense

Economia

Com quase metade da PEA sem carteira, informalidade bate recorde no Brasil

No total, 38,8 milhões de brasileiros atuam sem carteira assinada, por conta própria sem registro ou ajudando a família

O mercado de trabalho bateu recorde de informalidade, mais uma vez, no trimestre encerrado em novembro, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, 38,8 milhões de brasileiros atuam sem carteira assinada, por conta própria sem registro ou ajudando a família. Com mais ocupações precárias, a taxa de desemprego, que estava em 11,8% entre junho e agosto, caiu para 11,2%. O índice é o menor desde o trimestre encerrado em março de 2016, quando foi de 10,9%.

Apesar da melhora, puxada pelos setores de comércio, alojamento e alimentação, 11,9 milhões de pessoas continuam buscando vagas. Além disso, das 785 mil que conseguiram se reinserir no mercado no período entre setembro e novembro, 303 mil recorreram ao trabalho por conta própria, como autônomos, vendedores ambulantes, motoristas de aplicativo e os mais variados ;bicos; ; ocupações de 24,6 milhões de brasileiros. Outras 17 mil não tiveram as carteiras de trabalho assinadas e entraram para o grupo de 11,8 milhões que trabalham sem direitos garantidos.

O alto nível de informalidade explica outro dado da pesquisa: a renda média dos brasileiros continua parada, sem aumento real, apesar do aquecimento do mercado de trabalho. No trimestre encerrado em novembro, o rendimento médio foi de R$ 2.332 por mês. Praticamente nenhuma diferença em relação ao mesmo período do ano passado, quando era de R$ 2.305. Isso acontece porque as vagas criadas são, em geral, ;para atividades mais elementares, em funções que pagam menos;, explicou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

Formada há dois anos em gestão de recursos humanos, Camila Oliveira, 25 anos, entende bem a situação. Sem nenhuma resposta aos currículos enviados, ela tem que se adaptar a eventuais vagas que exigem nível médio ou fundamental e pagam bem menos do que a média na área em que se especializou. ;Como não encontrei nada, tenho feito bicos, que pagam muito mal. Já cheguei a ganhar R$ 20 por cinco horas de trabalho;, conta.

Camila está na lista de trabalhadores subutilizados, a mão de obra ;desperdiçada; pelo mercado, com outros 26,6 milhões de brasileiros. Eles são desempregados, empregados que gostariam e poderiam trabalhar mais horas e pessoas que não estão procurando emprego, mas se consideram disponíveis para trabalhar. A taxa de subutilização, no trimestre encerrado em novembro, era de 23,3%, menor do que nos três meses anteriores, de 24,3%.


Surpresa

A surpresa positiva no último trimestre da Pnad foi o aumento de postos formais no último trimestre, ao contrário do que aconteceu nos períodos anteriores. Entre setembro e novembro, 378 mil pessoas tiveram as carteiras assinadas. ;Chamou atenção porque esse número não crescia de forma expressiva desde maio de 2014;, disse Beringuy. A análise é de que o movimento é positivo, mas insuficiente para ser visto como uma mudança na estrutura do mercado de trabalho.

No mesmo sentido, o economista Bruno Ottoni, pesquisador da IDados Consultoria e da Fundação Getulio Vargas (FGV), avaliou que a queda na taxa de desemprego foi maior do que a esperada, mas ponderou que isso não significa que vai se manter nessa trajetória. ;É preciso que haja mais surpresas como essa nos próximos meses para se chegar a alguma conclusão;, disse. Ele lembrou que, recentemente, o governo colocou dinheiro no bolso das pessoas ao liberar o saque de parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o que pode ter aumentado o movimento no comércio, resultando em mais contratações.

Entre postos formais e informais, o setor de comércio foi o que mais gerou vagas no trimestre, com 338 mil novos empregados. Beringuy apontou que boa parte é de temporários, para dar conta do movimento gerado pelas festas de fim de ano e as compras na Black Friday, em novembro. Outra parte, acrescentou Ottoni, pode ter vindo da verba extra do FGTS no orçamento das famílias.

Se a melhora nos índices tiver sido apenas pelo estímulo do fundo ou pela sazonalidade, será apenas um voo de galinha. ;Mas, se o PIB (Produto Interno Bruto) realmente crescer 2,2%, como é previsto pelo mercado, e os juros e a inflação continuarem baixos, a situação favorável pode se sustentar e a informalidade deve começar a cair;, estimou Ottoni. A projeção dele, caso a economia cresça dentro dessa expectativa, é de geração de até 500 mil postos formais em 2020.