Na volta do feriado de Natal, o Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), registrou mais um recorde histórico, ontem, encerrando o dia pela primeira vez acima de 117 mil pontos, apesar de o fluxo de saída de investidores estrangeiros continuar crescente no ano.
O Ibovespa, embalado com a alta das bolsas internacionais, registrou valorização de 1,15% a 117.203 pontos, com giro financeiro de R$ 16,1 bilhões. A alta acumulada no ano da B3 é de 33,3%. Enquanto isso, o real ficou levemente mais fortalecido. O dólar comercial recuou 0,49% em relação ao fechamento de sexta-feira, cotado a R$ 4,06 para venda. De acordo com analistas, os investidores brasileiros estão mais confiantes com a Bolsa diante dos sinais de retomada da economia brasileira, o que contribui para os recordes da B3.
Na contramão da euforia da Bolsa, o fluxo cambial de dezembro apresentou saídas líquidas de US$ 40,8 bilhões no acumulado do ano até 20 de dezembro, um novo recorde, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). No mesmo período do ano passado, o saldo negativo era de US$ 2,6 bilhões. Segundo a autoridade monetária, o maior deficit em um ano inteiro foi registrado em 1999, de US$ 16,2 bilhões. Apenas em dezembro, o país registrou deficit de US$ 13,7 bilhões, dado bem próximo ao pior resultado para o mês, de US$ 14,1 bilhões, em 2014.
O aumento da saída de dólares em dezembro tem a ver com o aumento do volume de remessas de lucro de subsidiárias para suas matrizes no exterior e também com o movimento de pré-pagamento de dívidas no exterior por empresas nacionais, que aproveitam os juros mais baixos no mercado doméstico. Além disso, os dados da B3 mostram que a participação do investidor estrangeiro na Bovespa vem diminuindo ao longo de 2019. Em 2018, eles detinham 48,9% e, neste ano, essa fatia passou para 45,2%.
O Brasil ainda é visto como um mercado arriscado, e as bolsas de países desenvolvidos também estão registrando alta parecida com a do Brasil. Nova York, por exemplo, valorizou 29% no ano, enquanto o Ibovespa, ajustado pelo câmbio, subiu 27%, de acordo com dados de Glauco Legat, analista chefe da Necton Investimentos.
Para Renan Silva, economista da BlueMetrix Ativos, a forte alta da B3 neste fim de ano é atípica. ;Em geral, não temos altas expressivas devido à ausência de volume e das remessas para o exterior. Desta vez, temos um contágio de otimismo com os últimos números do trimestre no cenário doméstico. A economia global também está mais favorável. Estados Unidos e China estão perto de um acordo comercial convergente;, avaliou. Ele acredita que o fluxo deve se reverter em breve. ;Parece-me um movimento de curto prazo, sazonal. Na contramão, vemos a bolsa subindo e um câmbio menos pressionado. Hoje (ontem), o dólar se desvalorizou, queda que não reflete uma saída contínua;, disse.
Desde janeiro até o último dia 20, o saldo de compras e vendas de ações de não-residentes ficou negativo em R$ 43,1 bilhões no mercado secundário. Esse dado não considera a compra, por estrangeiros, de papéis novos, sejam IPOs (oferta inicial de ações), sejam follow on (vendas adicionais de ações de empresas listadas na Bolsa), que totalizou R$ 36,1 bilhões no período. Mesmo assim, o movimento financeiro de investidores estrangeiros na Bolsa ainda está negativo em R$ 7 bilhões. Conforme dados da B3, o volume acumulado no ano de IPOs e follow on está em R$ 89,6 bilhões e pode crescer mais nos próximos dois pregões.
Juros baixos
A Bolsa continua batendo recordes apesar da saída de investidores estrangeiros, porque o interesse de investidores doméstico é crescente diante da nova conjuntura econômica do país, com a taxa básica de juros (Selic) no menor patamar da história, de 4,5% ao ano, e inflação controlada, o que está forçando os investidores a correrem mais risco para conseguir maximizar os retornos dos investimentos. ;Hoje há mais gente entrando na Bolsa do que saindo. Gestores de fundos de Previdência, que só costumam aplicar em renda fixa, estão migrando, forçados a diversificar para melhorar a performance;, explicou Legat, da Necton. O especialista aposta no Ibovespa chegando a 137 mil em 2020. Esses fundos estão no grupo de investidores institucionais que, junto com os pessoa física, ampliaram a participação de 28,8% e de 17,9% para 18,1% e para 31,5%, respectivamente.
O diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer, ressaltou que esse movimento de entrada de pessoas físicas na Bolsa tem contribuído para os recordes consecutivos da B3 neste ano. Ele lembrou que, no início de 2019, havia 800 mil investidores. Hoje, o dado praticamente dobrou, encostando em 1,6 milhão. ;Estão entrando 50 mil pessoas por dia na Bolsa, saindo da renda fixa, assim como gestores de fundos domésticos também;, destacou.
Segundo Spyer, a saída de investidores estrangeiros também é justificada pelo reequilíbrio dos portfólios. Para ele, com um cenário de juros negativos nos países desenvolvidos, a partir de 2020, a tendência é que os investidortes estrangeiros retornem ao Brasil, o que poderá fazer com que o Ibovespa bata novos recordes.
No cenário internacional, juros baixos e o acordo iminente entre Estados Unidos e China ajudaram a Nasdaq, a bolsa norte-americana das empresas de tecnologia, a fechar acima dos 9 mil pontos pela primeira vez na história. ;Os principais bancos centrais do mundo estão mantendo uma postura mais acomodada, como foi durante o ano, com juros mais baixos. A Bolsa vai continuar a subir;, apostou Victor Beirute, economista da Guide Investimentos. ;Faltam apenas dois pregões para o fim do ano e o otimismo é forte, tanto no âmbito interno, com os últimos dados de emprego bem positivos, quanto externo, com o acordo comercial. Isso tem motivado o mercado;, disse o analista da Toro Investimentos, João Freitas.
Inflação sobe 0,86%
O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) subiu 0,86% na terceira quadrissemana de dezembro, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). O resultado mostra um alívio de 0,01 ponto porcentual na comparação com o número da divulgação anterior, de 0,87%. É a primeira em que o IPC-S mostra desaceleração desde a passagem da terceira quadrissemana para o fechamento do mês de outubro, quando o indicador foi de -0,07% para -0,09%. O grupo de Habitação teve a maior contribuição para o alívio mostrado pelo IPC-S, passando de -0,17% para -0,49%. A deflação foi puxada pelo comportamento da tarifa de eletricidade residencial, cuja taxa passou de -1,58% para -3,43%.