São Paulo ; Tecnologia, inovação, educação, infraestrutura, reforma tributária e estímulo à geração de empregos estão entre os temas mais relevantes na pauta dos executivos para o ano que vem. A pesquisa Agenda 2020, feita pela Deloitte, ouviu presidentes, CEOs, CFOs e conselheiros das 1.377 maiores empresas entre 15 e 28 de novembro.
A receita do grupo entrevistado, que inclui de grandes empresas a bancos, chega a R$ 3,5 trilhões por ano, cerca da metade do Produto Interno Bruto (PIB). Desse total, 57% têm sedes em São Paulo, o que dá ao universo pesquisado uma equivalência aos dados do IBGE. Ao todo, 16% são dos demais estados do Sudeste, 15% do Sul, 9% no Nordeste, 3% no Centro-Oeste e 1% no Norte.
Segundo 69% dos empresários que atuam no Centro-Oeste e no Norte, a economia e os negócios no país serão melhores em 2020. A média nacional foi bem próxima a esse número, de 71%. Ao todo, 19% dos respondentes dessas duas regiões disseram não esperar por uma mudança importante no ano que vem. Os mais otimistas são os empresários do Sul (76%).
Por conta das características das atividades econômicas do Norte e do Centro-Oeste ; são ligadas aos segmentos de agronegócio, alimentos e bebidas, serviços prestados às empresas e logística ;, a previsão de investimentos prioritários na adoção de novas tecnologias (88% em caso de cenário positivo) e na melhora da qualificação de funcionários (91% em caso de cenário positivo) são as mais baixas entre as regiões do país. A média brasileira é, respectivamente, de 94% e de 93%.
Apesar da expectativa alta, os entrevistados ainda estão apreensivos quando perguntados sobre a expansão dos negócios na comparação com outras regiões e dizem que vão aguardar uma melhora no cenário econômico para investir: 40% afirmam que devem ampliar os atuais parques de produção (contra média nacional de 46%) e 42% devem aumentar os prontos de venda no ano que tem (ante a média nacional de 62%).
Quanto às prioridades do governo para o próximo ano, 61% dos entrevistados do CO e do Norte esperam mais investimentos em infraestrutura, recursos em ciência e tecnologia e maiores inovações tecnológicas para a eficiência da administração pública ; ambos os itens somando 54% do total de respondentes.
O maior otimismo entre os entrevistados do Norte e do Centro-Oeste está nos planos de participação de licitações ou privatizações. Enquanto a média nacional apontada pela pesquisa é de 31%, nessas duas regiões o número é de 36%, abaixo apenas do apontado nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais (41%).
Segundo Giovanni Cordeiro (foto), economista-chefe da Deloitte, esse otimismo tem a ver com os tipos de negócio em que os participantes atuam e as oportunidades percebidas nos planos de concessão e de privatização do governo. São dos segmentos de construção, telecomunicações e outros serviços prestados às empresas. ;Por isso, faz sentido esses segmentos aguardarem essas oportunidades de privatizações;, explica.
Contratações
Empresários ouvidos no Centro-Oeste e no Norte são os que mais têm planos de contratar em 2020. Independentemente da evolução econômica (23%, contra média nacional de 18%). Por outro lado, quando perguntados sobre contratação para o caso de a economia do país melhorar, os entrevistados dessas regiões são os que têm a expectativa mais baixa ; 44%, contra média nacional de 58%. O Sul, que já vem despontando como grande gerador de novos postos de trabalho, lidera nas intenções, com 61%.
Entre as prioridades do governo federal apontadas pelos entrevistados do Centro-Oeste e do Norte estão investimentos em ciência e tecnologia (54%), em infraestrutura (61%) e eficiência da administração pública (54%).
No Sul, por sua vez, as preocupações são outras. Ao todo, 58% apontam para a ampliação dos incentivos tributários para pesquisa e desenvolvimento, 60% pedem mais incentivos governamentais para adaptação à indústria 4.0 e à transformação digital e 86% falam do estímulo para a geração de empregos.
Já no Nordeste as prioridades da União são outras. Para 95% dos empresários, são prioritários junto ao governo para impulsionar a economia e os negócios em 2020 os investimentos em educação (95%), em saúde (78%) e no combate a corrupção (57%, o número mais elevado entre todas as regiões).
O levantamento, que chega a sua quarta edição, mostra qual é a expectativa para o ambiente de negócios no Brasil para 2020. Em 2018, por exemplo, a pesquisa foi feita sob o contágio da expectativa eleitoral. Para o próximo ano, com a reforma da Previdência já aprovada, o empresariado mostra ter expectativas em relação ao processo de privatização, aos investimentos em infraestrutura, à reforma tributária, mas sem deixar de lado questões como melhoria da educação e da qualificação da mão de obra.
Cordeiro diz que a expectativa para 2020 apontada pelos entrevistados veio mais positiva do que esperava. Isso é bom, ainda mais se levando em consideração o comportamento em 2018 em relação a 2019. ;Havia uma expectativa positiva, mas a política do governo federal não foi bem clara quanto à sua agenda e alguns ficaram insatisfeitos porque demorou. Agora, com a reforma da Previdência aprovada, sabe-se que haverá um equilíbrio nas contas públicas;, avalia.
Mas o que tem influenciado mais os planos do empresariado para 2020 são as promessas do governo, como o pacote de privatizações e concessões, que não dependem de outras ações federais, as propostas de estímulo ao emprego e a reforma tributária.
Como lembra Cordeiro, nos últimos dois anos as empresas passaram por uma série de ajustes e muitos dos seus projetos acabaram ficando no papel por conta das incertezas. ;Agora, eles acreditam que saindo os projetos do governo poderão tirar seus planos de expansão do papel. Eles olham para o futuro, mas a expectativa é construída olhando um pouco o passado, para dados que agora já vêm mostrando alguma recuperação, como as vendas do comércio, a expectativa para o Natal, o segmento imobiliário;, explica o economista-chefe da Deloitte.
Se a pauta do governo ajuda a tomar decisões, também a paralisia dos últimos anos impacta os planos de investimentos das empresas. O economista-chefe da Deloitte explica que o empresariado sabe que têm sobrevivido sem fazer aportes. Agora, se quiserem se manter competitivos, terão de fazer os desembolsos. Parte dos recursos, como mostra a pesquisa, será destinadas para a requalificação profissional, que também ficou de lado pela falta de perspectivas para a economia do país.
As empresas entrevistadas estão divididas da seguinte forma: 31% estão no segmento de bens de consumo, seguido pelo de serviços (24%), TI e Telecomunicações (14%), Infraestrutura e construção (14%), atividades financeiras (9%) e bens de capital (8%).