A forte competição entre os investidores deu o tom de leilão de transmissão de energia realizado na quinta-feira, 19, pelo governo federal. O certame, que ofereceu a concessão de 34 projetos e atraiu R$ 4,18 bilhões em investimentos, contou com a presença de 38 empresas nacionais e internacionais e registrou o maior deságio de uma licitação deste tipo, de 60,3%. O resultado foi comemorado pelo Ministério de Minas (MME) e Energia e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que organizou o leilão.
Os projetos foram divididos em 12 lotes. Os colombianos da ISA Cteep foram os grandes vencedores do leilão, conquistando três lotes que somam R$ 1,3 bilhão em investimentos e surpreendendo pela agressividade das suas propostas - os deságios variaram entre 65,4% e 68,12%. O diretor Financeiro e de Relações com Investidores da transmissora, Alessandro Gregori, afirmou que a ISA Cteep não foi agressiva, mas "competitiva". A estratégia adotada foi a de centrar esforços nos ativos em que poderia extrair mais sinergias.
O sócio da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, disse que o forte deságio é sinal da maturidade do setor elétrico, de forma que os empreendedores podem agregar "riscos controláveis" em seus lances, como estimar um aumento no ritmo de obras que resulte em uma antecipação na entrega do projeto. "Não significa que a Aneel esteja maluca e colocou uma receita teto alto demais ou os proponentes ficaram malucos", afirmou.
O principal lote ofertado no leilão foi o de número 11, composto por duas linhas de transmissão e duas subestações no Acre. Quando estiver em operação em março de 2025, estes projetos permitirão a integração de parte do Estado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), reduzindo o uso da energia das termoelétricas, mais cara, para atender a região. "Isso vai trazer uma economia de R$ 150 milhões por ano aos consumidores", afirmou o diretor-geral da Aneel, André Pepitone, ao final da licitação. O lote 11 foi arrematado pelo Consórcio Norte, composto pela Zopone Engenharia e Comércio e Sollo Participações.
Para o diretor da Aneel, alguns fatores explicam a forte disputa pelos projetos: a estabilidade regulatória do setor elétrico, o que tornaria o mercado atrativo aos investidores em um contexto de queda da taxa de juros Selic; a composição dos lotes do leilão, com ativos de maior e menor porte, atraindo empresas de diferentes perfis; e o que ele chamou de aprimoramentos regulatórios nas regras do certame, compatibilizando, por exemplo, o prazo de implementação dos empreendimentos à realidade do processo de licenciamento ambiental do País.
No certame de quinta-feira, grandes operadores do setor como CPFL Energia, Equatorial, Energisa e State Grid participaram da disputa, mas não foram competitivas nas propostas. O deságio de 60,3% resultou em uma receita anual permitida (RAP) para construir e operar os ativos de R$ 285,7 milhões. Ao todo, serão construídas 17 linhas de transmissão (2,47 mil quilômetros) e 17 subestações (7,8 mil MVA em capacidade de transformação). Os projetos serão implementados em 12 Estados da Federação.
Com o resultado do leilão de quinta-feira , o ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, destacou que as licitações de geração e transmissão realizadas em 2019 resultarão em R$ 10 bilhões em novos investimentos nos próximos cinco anos. "Isso vai trazer ao consumidor uma economia de R$ 10 bilhões, além de geração de empregos", afirmou.
Para 2020, o governo planejar realizar dois leilões de transmissão, um em cada semestre. A Secretária Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier, antecipou que a licitação prevista para dezembro do ano que vem deve ofertar projetos ao mercado que somam o dobro dos investimentos do leilão de quinta-feira - ou seja, entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.