;A preocupação do presidente Bolsonaro está no mesmo nível da do ministro Tarcísio. O governo tem acompanhado essa situação, procurando antecipar-se aos problemas e tomar as decisões mais adequadas para o país. Nós sabemos o quanto impactante é uma greve dos caminhoneiros para o viver, o dia a dia de uma sociedade. O próprio presidente reafirma seu apreço pela classe e ratifica esse apreço. O estabelecimento de diálogo é a melhor forma de dar soluções às demandas deles.;
A primeira ameaça de greve foi anunciada em novembro e voltou a ser cogitada por algumas lideranças. A decisão, porém, não está fechada na categoria. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) não a respalda, pois teria conotação política, na opinião de representantes de federações. A insatisfação com a burocracia e a demora do governo em solucionar as demandas, contudo, é comum a classes e seus comandos.
O Ministério da Infraestrutura garantiu que mantém, desde o início do atual governo, uma política de diálogo contínuo e bimestral com as entidades representativas de embarcadores, transportadores e caminhoneiros autônomos, por meio da retomada e da reformulação do Fórum Permanente do Transporte Rodoviário de Cargas (RTC) ; cujo último encontro ocorreu semana passada, ;para encontrar soluções a fim de melhorar a vida da categoria;. Foram abordados o piso mínimo do frete, o fortalecimento do cooperativismo, a criação do cartão combustível, o programa de saúde para os caminhoneiros e a inclusão dos pontos de parada e descanso como uma obrigatoriedade nos processos de concessão de rodovias federais, segundo a pasta, que também prometeu publicar, até 20 de janeiro, a proposta da tabela e o piso mínimo atualizados.
Representante de caminhoneiros autônomos e um dos incentivadores da greve, Marconi França reclamou que o governo fica só na promessa. ;Há 19 meses, desde a paralisação de 2018, não somos atendidos. O governo não faz nada para travar o preço do óleo diesel, não respeita o piso mínimo de frete. Deixou a categoria em condições de escravidão. O fórum é só enrolação. Na semana passada, tratou só de cooperativismo;, criticou.
França reafirmou a intenção da paralisação, agora com apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT). ;Que o governo faça valer as nossas leis, da estadia, do vale pedágio, do descanso, do piso mínimo. Prometeram mil vezes implementar o Ciot (Código Identificador da Operação de Transportes) e, até agora, nada;, acrescentou. O Ciot é um sistema eletrônico que tem o poder de inibir o atravessador na cadeia de transporte, obrigando o pagamento do piso mínimo ao caminhoneiro. ;Existe na lei desde 2011. A resolução está pronta, só falta vontade política.;
Norival de Almeida Silva, presidente da Federação dos Caminhoneiros de Carga Geral do Estado de São Paulo (Fetrabens), lamentou a burocracia do governo, mas disse que sua entidade não apoia a greve. ;O governo está ouvindo. A nova planilha do piso vai sair até 20 de janeiro, com atualização do custo dos fretes, por tipo de carga. Pelo nosso acordo, a cada vez que o diesel atingir variação de 10%, para cima ou para baixo, o valor é recomposto na tabela;, disse. ;A manifestação é de base política;, completou.
O presidente da Federação dos Transportadores Autônomos de Cargas das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Forte), José Araújo da Silva, o China, afirmou que a entidade que representa também não apoia a paralisação. ;Mas eu não sou contra, porque são interesses da minha categoria. Foi feita uma greve e não resolveram nada. O governo empurrou com a barriga. O frete baixou e o óleo diesel aumentou em todas as cinco regiões do país. A greve já foi feita e nada está funcionando. Só prejudicou de lá para cá. A categoria está se acabando.;
Interferência política
Wallace Landim, o Chorão, compartilha da mesma ideia de que os caminhoneiros estão no limite. ;Mas greve junto com a CUT não apoio, porque é política, ligada à esquerda. Agora, o Marcello Costa (secretário Nacional de Transportes Terrestres) nos garantiu que o Ciot vai sair e as tabelas, também. O governo está devagar, mas está caminhando;, avaliou. Segundo ele, a metodologia do piso deve contemplar os vários segmentos de caminhoneiros. ;São ajustes na velocidade média percorrida, na carga média de horário de trabalho e reajuste entre 14% e 18%;, estimou.Conforme o Ministério de Infraestrutura, foram feitas várias reformulações na tabela. Umas delas é que, na resolução de julho, eram cinco categorias; agora, na nova proposta, serão 10 categorias para os tipos de carga a ser calculada. ;Essa evolução já foi inserida, com valores distintos e atualização dos valores do diesel. Temos até 20 de janeiro para publicar a próxima resolução, tendo por base o novo ciclo de atualização.;
Em nota, a CNTA informou que a entidade desconhece qualquer movimentação para uma greve. ;Qualquer decisão oficial sobre paralisação por parte da CNTA requer um procedimento obrigatório (e legal) dentro da representatividade sindical. Ou seja, para falarmos sobre greve, é necessário que os sindicatos que fazem parte da nossa base realizem assembleias deliberativas para votação sobre a mesma e sua pauta de reivindicação. Até o momento, nenhuma entidade coligada manifestou a realização desse procedimento.;
A categoria reclama sobretudo dos 11 aumentos consecutivos de gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha, entre outras demandas não atendidas parcialmente. No ano passado, a paralisação dos caminhoneiros conseguiu impactar pesadamente a produção, os serviços e o abastecimento.