Jornal Correio Braziliense

Economia

Carne pesa e inflação dispara em novembro

Alta dos preços do produto fez o IPCA avançar 0,51% no mês passado, quase cinco vezes mais do que em outubro. Apesar disso, o indicador continua abaixo da meta. Carestia foi pressionada também pelo aumento das loterias e das contas de luz


Puxado pelo aumento dos preços da carne no varejo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que representa a inflação oficial do país, avançou 0,51% no mês passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ; quase cinco vezes mais do que em outubro, que marcou alta de apenas 0,10%. O resultado de novembro é o maior para o mês desde 2015, quando a elevação chegou a 1,01%.

Com o salto verificado em novembro, a inflação acumulada em 12 meses pulou de 2,54% para 3,27%. Mesmo assim, o indicador permaneceu abaixo do centro da meta anual definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,25% com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para abaixo. Segundo o gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, Pedro Kislanov, ainda não é possível dizer que haja uma aceleração da inflação por conta de demanda interna. ;O que podemos dizer é que, de fato, o índice estava em um patamar mais próximo do piso da meta, de 2,75%, e avançou. Mas continua em um nível ainda bastante confortável no que diz respeito à meta central;, afirmou. Mesmo assim, a elevação do indicador levou analistas a estimar que o processo de redução das taxas de juros, promovido pelo Banco Central, deve ser interrompido, após uma última queda, na próxima semana (veja matéria na página seguinte).

A taxa do IPCA de novembro foi puxada principalmente pelo grupo alimentação e bebidas, que teve elevação de 0,72%. Com peso de 0,18 ponto percentual (p.p) no indicador, o item representou quase metade do índice de novembro. De acordo com o IBGE, a aceleração de preços dos produtos desse grupo ocorreu em razão, principalmente, da alta de 8,09% nos preços das carnes, que teve impacto individual de 0,22 p.p no índice geral. No ano, o alimento acumula elevação de 12,15%, quase quatro vezes maior que a inflação acumulada neste ano.

;O preço das carnes aumentou por uma questão de mercado: como aumentaram as exportações brasileiras, principalmente para a China, a oferta no país diminuiu, provocando elevação dos valores;, explicou Kislanov. O fato é que a disparada assusta os consumidores. ;Hoje, fomos fazer a compra da semana e nos assustamos com os preços das carnes vermelhas;, disse o publicitário Fábio Borba, de 26 anos. ;Temos costume de comer frango e, mesmo assim, a linguiça de frango, que custava cerca de R$ 13, achamos agora por R$ 20 o quilo.;

A servidora aposentada Wilma Lemos, 53, geralmente costuma adquirir tipos variados de carne. ;Por fazer apenas uma compra por mês, sempre levo filé-mignon, contrafilé, alcatra, carne de segunda. Eu compro para congelar em casa e ir fazendo aos poucos;, contou. ;Nos diferentes estabelecimentos, o preço está bem parecido e, mesmo em dias de promoção, não está muito barato.; Ela conta que, devido aos preços elevados do produto, as despesas dela no supermercado aumentaram 30%. ;Tem gente que troca carne por vegetais, mas nós, lá em casa, não conseguimos;, disse.

Com a alta do preço das proteínas, o item alimentação em domicílio, apurado no IPCA, que havia recuado 0,03% em outubro, avançou 1,01% em novembro. O aumento não foi maior porque vários produtos de largo consumo caíram de preço. As maiores quedas foram as da batata-inglesa, que ficou 14,27% mais barata, e do tomate, que caiu 12,71%. Influenciada pelo item lanches, a alimentação fora do domicílio também avançou em novembro, com alta de 0,21% ante 0,19% no mês anterior.

* Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo


  • INPC também sobe

    O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para o reajuste do salário mínimo e de aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), também registrou a maior taxa para o mês de novembro em quatro anos, subindo de 0,04%, em outubro, para 0,54%, no mês passado. A variação acumulada no ano ficou em 3,22%. O acumulado em 12 meses alcançou 3,37%, acima dos 2,55% registrados nos 12 meses até outubro.