O mercado de juros acompanhou à distância a melhora dos demais ativos domésticos, oscilando majoritariamente com viés de alta, apesar do dólar em queda firme, não somente ante o real como também em relação a outras divisas de economias emergentes. Após dois dias de alívio nos prêmios, o mercado esboçou uma realização de lucros, mas sem respaldo de grande volume, sinalizando uma tomada de fôlego antes da agenda desta sexta-feira, 6, com payroll nos Estados Unidos e IPCA de novembro no Brasil.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou tanto a sessão regular quanto a estendida em 4,70%, de 4,679% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 terminou em 5,85% (regular e estendida), de 5,821% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 6,421% para 6,44% (regular e estendida) e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 6,731% para 6,77% (regular) e 6,78% (estendida).
Mesmo com o dólar novamente abaixo dos R$ 4,20, Rafael Leão, economista-chefe da Arazul Capital Research, vê com naturalidade o comportamento das taxas hoje, ressaltando que, apesar do sinal de alta, o movimento foi "pequeno", "de poucos bps", na tentativa de realizar lucros após o recuo recente. "O câmbio teve volatilidade elevada nas últimas semanas, a inflação de proteínas pode surpreender no IPCA de novembro e dezembro e temos ainda a alta dos IGPs. Tudo isso tirou a necessidade de corte da Selic ano que vem. É natural essa 'subidinha'", disse.
A despeito da reação muito positiva do mercado aos dados de atividade nesta semana, bem ou mal, estes endossam a perspectiva crescente de que o Copom deve promover o último corte da taxa básica na semana que vem, para 4,5%, como já sinalizado em seus documentos, e, depois, fazer uma pausa para observar os efeitos defasados da política monetária. Num cenário mais otimista, caberia ainda uma redução de 0,25 ou até 0,5 ponto porcentual em fevereiro, como mostra pesquisa divulgada hoje pelo Projeções Broadcast.
A gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patricia Pereira, lembra que a movimentação das taxas se deu mais pela manhã, na esteira de dados como os da Anfavea, PIB da zona o euro e com os leilões de LTN e de NTN-F do Tesouro, e que, à tarde, se acomodaram com o investidor de olho na agenda de amanhã. "Se o IPCA vier mais pressionado, a cabeça do mercado sobre a Selic não muda", disse. Se surpreender para baixo, é possível alguma reação mais passional do mercado, com aumento de apostas "oportunistas" em mais cortes da Selic em 2020, mas, na visão da gestora, que não se sustentariam por muito tempo.