Os brasileiros endividados têm a chance de reduzir as dívidas em até 92%, com condições especiais, durante a Semana de Negociação e Orientação Financeira, que começou ontem e vai até sexta-feira em todo o país. Ao todo, 458 agências bancárias pelo Brasil vão oferecer orientação financeira e negociar dívidas em atraso de seus clientes, com horário estendido até as 20h. O mutirão é organizado pelo Banco Central e pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Banco Pan, Caixa Econômica, Itaú e Santander participam do mutirão. Os bancos Votorantim e Safra também vão oferecer renegociação de débitos e orientação financeira, porém apenas pelos canais digitais. Nas agências que não estenderam o funcionamento, será possível negociar no horário normal de funcionamento.
O mutirão deve marcar uma evolução importante nos esforços realizados pelas instituições financeiras para promover o uso saudável do crédito, afirmou o diretor de Autorregulação da Febraban, Amaury Oliva. ;É, em primeiro lugar, um esforço coordenado com o BC, visando aproveitar a capacidade de comunicação e capilaridade das instituições financeiras, e o conhecimento que elas detêm de seus clientes e usuários, para ampliar o acesso das pessoas a informações sobre o tema;, disse. ;O superendividamento não interessa a ninguém, nem aos consumidores nem aos bancos;.
O coordenador do curso de Ciências Econômicas do IESB, Riezo Silva Almeida, alertou, se a oferta não for atrativa no banco de origem da dívida, o consumidor pode trocar a instituição por meio da portabilidade. ;O ideal é consultar entre dois ou três bancos antes de aceitar a dívida.; Mais de 50% das dívidas em aberto do país são referentes a instituições financeiras, segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). O comércio é responsável por outros 17%, comunicação por 12% das pendências e contas de água e luz, por 10%.
Descontos
O mutirão ainda não movimentou a maioria das agências e, tampouco, chegou ao ouvido de todos. A secretária Cyane Lima, 30, disse que não ficou sabendo da iniciativa, mesmo estando com débitos atrasados no cartão de crédito. ;Se eu conseguisse diminuir os juros já seria perfeito, facilitaria muito minha vida;, afirmou. Para o estudante João Santana, 22, que acumula uma dívida quatro vezes maior do que a renda que ganha como estagiário e entregador de aplicativo de comida, o murtirão é uma esperança. ;Não consegui trancar a matrícula da faculdade e as mensalidades foram se acumulando;, contou.
De acordo com a Febraban, os percentuais de descontos são decididos por cada banco. As opções de negociação incluem parcelamento, extensão do prazo e nova linha de crédito com juros menores, entre outros. Os clientes do Banco do Brasil podem liquidar as dívidas com até 92% de desconto, com prazos de 120 meses e 180 dias de carência. A oferta do BB também contém taxas de juros 14% menores para as operações de renegociação.
Os descontos de renegociação no Santander chegam a 90%. Clientes da Caixa vão poder quitar dívidas que estejam em atraso há mais de um ano, também com até 90% de desconto para pagamento à vista. O Bradesco oferece facilidades como prazos e taxas diferenciadas. O Itaú vai praticar juros de 1,99% para débitos com mais de 90 dias de atraso.
* Estagiários sob a supervisão de Simone Kafruni
- Se Selic cair mais, Caixa reduzirá juros
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que a taxa básica de juros do país, a Selic, pode ser revisada antes do fim de 2019, de 5% para 4,5% ao ano. Na próxima semana, Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará a reunião que deve selar a mudança. O comentário foi feito durante evento na Caixa, no qual o presidente do banco, Pedro Guimarães, disse que, se a redução na Selic for concretizada, a instituição anunciará novos cortes nos juros, principalmente nos do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito. Bolsonaro afirmou que, com a política adotada por Guimarães, a Caixa pode aumentar o número de clientes, diminuir a inadimplência e, em consequência, lucrar mais. ;No vácuo disso, os outros bancos vão diminuir suas taxas de juros. Se não, vão perder rentabilidade;, completou.