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A situação do mercado de trabalho no Brasil vai permanecer ruim a longo prazo, porque a educação aumentou nas últimas décadas, mas a produtividade está estagnada desde os anos 1980, já que a qualidade do ensino é muito baixa no país. A afirmação foi feita pelo professor Naércio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, no painel Emprego, renda e infraestrutura, durante o seminário Correio Debate: Desafios para 2020 ; O Brasil que nos aguarda.
O professor ressaltou que o país tem um problema estrutural de produtividade. Se isso não mudar, a renda ficará estagnada. ;Falta igualdade de oportunidades. O que vimos foi uma recuperação pequena do emprego, porque os cônjuges entraram no mercado de trabalho para compensar a saída dos chefes de família. Sem oportunidade de emprego, mais jovens entraram na informalidade;, explicou.
;Se não melhorarmos a produtividade, a taxa de desemprego não vai cair;, disse. O professor comparou escolaridade e produtividade com base no Produto Interno Bruto (PIB) por trabalhador. No país, de 1965 para 1980, a produtividade dobrou, sem investimentos em educação. De 1980 para 2010, o Brasil triplicou a educação, mas não aumentou a produtividade. ;Então, em 2010, a produtividade estava no mesmo nível de 1980. Uma estagnação de 30 anos;, afirmou.
O motivo desse descompasso, segundo Menezes, é a baixa qualidade de ensino do Brasil. ;Mais de 70% dos jovens de 15 anos estão abaixo do nível 2 do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), pior patamar da pesquisa;, ressaltou. Ao monitorar o desempenho dos jovens durante a prova do Pisa, enquanto alunos da Coreia e Finlândia ficaram com uma média de 50% a 60% de acertos, os brasileiros despencam para 10%. ;Pior que isso, 60% nem abriram a questão antes do intervalo da prova, porque não fazem esforço;, criticou.
Conforme o professor, embora o gasto com aluno tenha triplicado, as notas são menores do que em 1995. ;No quinto ano fundamental, melhorou o desempenho. No nono, a melhora é mais lenta. Mas, no ensino médio, as notas caíram. Ou seja, quem sai do ensino médio sabe menos do que sabia em 1995. Chega ao mercado de trabalho com nota média muito baixa;, destacou.
Mais afetados
Além disso, 30% dos jovens brasileiros com 18 anos não estudam nem trabalham. ;Isso tem a ver com o desemprego. A situação aumenta a probabilidade de a juventude entrar no crime;, alertou. Ao desenhar a composição do desemprego, Menezes apontou que os grupos mais afetados são jovens e filhos que moram com os pais. Depois, vêm os chefes de família, o que explica o aumento do número de cônjuges entrando no mercado de trabalho.
;Hoje, 50% dos jovens conseguem completar o ensino médio, antes eram 25%. Mas esses jovens chegaram ao mercado de trabalho numa época de crise. Por isso, são os mais afetados. Há uma recuperação, mas os jovens estão entrando, principalmente, no mercado informal;, destacou. ;É uma recuperação precária do mercado de trabalho, é o jovem que vai ser motorista de aplicativo, entregador de pizza;, afirmou.
Para mudar o quadro, Menezes disse que uma das medidas mais urgentes, para 2020, é reformular a gestão educacional no país. ;É preciso ter um plano nacional de educação. Um sistema nacional de avaliação da educação, de forma que municípios, estados e o governo federal se juntem para organizar como vai funcionar a gestão da educação no país. Hoje em dia, as coisas são muito desorganizadas, cada município decide a política que acha melhor. Então, é preciso ter uma coordenação maior entre todos os entes para melhorar a gestão. Especialmente no ensino médio, que é onde o gargalo se encontra;, assinalou.
No mercado de trabalho, Menezes sustentou que será necessário avaliar os programas de qualificação do trabalhador. ;Gastou-se muito com programas de qualificação e treinamento, como o Pronatec, por exemplo, sem uma boa avaliação dos resultados. Então, não se sabe o que funciona e o que não funciona. É necessário fazer uma avaliação do impacto desses programas na carreira dos jovens e dos adultos, especialmente os que estão precisando se requalificar por causa do desemprego. E aí, seguir uma nova geração de programas baseados em evidências para ajudar na inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.;
* Estágiário sob supervisão de Odail Figueiredo