Além de assegurar que o câmbio é flutuante e que o Banco Central fará intervenções sempre que julgar necessárias, o presidente do BC fez uma análise global do mercado. ;Começando pela parte internacional, houve revisão para baixo do crescimento global. Na primeira vez em que estive no Correio, a estimativa era de 3,4%, em outubro caiu para 3,1%;, disse. ;O Brasil está bem preparado, temos um volume de reserva bastante grande. A inflação está bem controlada. Aliás, sou o primeiro presidente do BC que não precisa falar sobre inflação. Tem sido um fator importante no ganho de credibilidade;, ressaltou.
Campos Neto explicou que, embora a autoridade monetária controle a taxa básica de juros, a Selic, não controla os juros futuros. ;Como os projetos de infraestrutura são de longo prazo, temos que fazer movimentos no curto prazo que se propaguem no futuro, para aumentar a potência da política monetária;, assinalou, durante o Correio Debate. ;Houve queda na Selic e existe espaço para redução para 4,5%, mas o grande ganho foi no longo prazo. Assim, parte dos projetos podem ser financiados pelo setor privado, o que vai dar menos problema fiscal lá na frente;, argumentou.
Segundo o presidente do BC, o crédito segue robusto no Brasil. ;O crédito livre está crescendo 13% na ponta. O crédito total cresce menos, porque o direcionamento está caindo. O que mostra a maior participação do setor privado;, destacou. Campos Neto rechaçou notícias de que o spread bancário não cai, mesmo num cenário de Selic no piso histórico. ;No dinheiro para capital de giro, os juros caíram de 25% para 13,5%. Para veículos, de 21% para 11%. Crédito rural está em 9% e, para o setor imobiliário, tem taxas de 6,75% nos bancos públicos e de 7%, nos privados;, enumerou.
Cheque especial
Campos Neto reconheceu, no entanto, que, nas modalidades de crédito emergencial, como rotativo do cartão de crédito ou cheque especial, os juros não caíram. ;Pelo contrário, em alguns casos, subiram na ponta. Por isso, estamos olhando isso de forma separada;, destacou. O BC estuda uma reengenharia de cobrança do cheque especial e deve anunciar uma medida em breve, antecipou o presidente da autoridade monetária
De acordo com ele, o perfil de quem mais usa essa modalidade de crédito emergencial, que tem as maiores taxas do mercado, é 44% com renda até dois salários mínimos e 67% com escolaridade até o ensino médio. ;Ou seja, há um componente de baixo rendimento associado à falta de educação financeira;, ressaltou Campos Neto.
Por conta disso, 21% dos brasileiros estão com endividamentos com juros de mais de 300% ao ano. ;Está claro que essa pessoa não vai conseguir pagar. Por isso, estudamos modificar a cobrança do cheque especial. Hoje, os juros são muito altos, porque, para garantir um limite o banco tem custo, tem que cobrar por aquele dinheiro que pode ser sacado a qualquer momento;, explicou. ;A modalidade é regressiva, porque, se você tem um limite enorme, mas não usa, quem paga são os endividados;, assinalou.