Jornal Correio Braziliense

Economia

Roberto Brant

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Crescer agora depende do Estado

No final de 2015, a economia brasileira estava se encaminhando para um desastre generalizado. A combinação de recessão, retorno da inflação e grave crise fiscal expunha a longa lista de erros econômicos cometidos pelos governos do PT. Não se trata aqui de uma avaliação inspirada por ideologia ou partidarismo. Os fatos são de grande clareza e não precisam de interpretação. E como recomendava Deng Xiaoping, é nos fatos que devemos procurar a verdade.

O governo de Michel Temer promoveu uma completa mudança de rumos na política econômica. Em seguida, as tendências foram revertidas: o país saiu da recessão e começou a crescer; a inflação foi reduzida e controlada; os juros básicos foram diminuindo consistentemente e iniciou-se o processo de ajuste das contas públicas.

O atual governo tem políticas inegavelmente polêmicas em muitos campos, mas tem também o mérito de ter dado continuidade à política macroeconômica do governo anterior, permitindo, assim, que os resultados não fossem interrompidos, mas, ao contrário, consolidados. Até as agendas frustradas do governo Temer foram recuperadas, como foi o caso da reforma da Previdência, aprovada numa versão mais rigorosa. Outras reformas têm sido prometidas, todas na direção correta de devolver ao Estado a capacidade de cumprir o seu papel.

Neste momento, o Brasil tem condições favoráveis em vários aspectos. O ajuste fiscal está incompleto, mas segue firme. A inflação está em um dos menores níveis de nossa história, e os juros básicos estão próximo de zero, descontada a inflação. É um conjunto de condições praticamente inédito em nossa história recente e sugere que nossa pior enfermidade, que é o baixo crescimento, pode, finalmente, ser enfrentada e vencida.

A questão que se coloca agora é como promover esse crescimento. No ano corrente, não deve atingir nem 1%, ou seja, tendo em vista o aumento da população, vai ser algo próximo de zero. Desde 2014, nossa renda por habitante vem caindo e, se mantivermos esse baixo nível de recuperação, somente por volta de 2025 vai retomar o valor inicial. São 10 anos perdidos, nos quais muitos destinos se arruinaram e muito descontentamento foi se acumulando.

Apesar do otimismo de alguns, o crescimento que se antecipa para os próximos anos não merece comemoração. As previsões apontam para um crescimento entre 2% e 2,5% ao ano. É pouco. Muito pouco pelo muito que perdemos nos anos de crise, pelo altíssimo desemprego, pela extensão da informalidade no mercado de trabalho e, principalmente, pelo potencial do país.

Há, pelo mundo afora, uma crescente inconformidade com os modestos frutos da economia para a maioria das pessoas. Em toda parte se dissemina a revolta contra o baixo crescimento e a desigualdade na distribuição da renda e da riqueza. Na maioria dos países relevantes, contudo, o crescimento ainda tem sido positivo nos últimos anos, ao contrário do nosso. Por isso, buscar o crescimento rapidamente está se tornando, para nós, uma exigência, se não quisermos ver nossa integridade social em risco.

Neste ponto, surge uma preocupação. A doutrina econômica do atual governo confia, sem reservas, nos mercados para a volta do crescimento. Afirma que, estabelecidas as condições necessárias no ambiente econômico, os agentes privados vão investir, criar empregos e elevar o crescimento. Não é preciso o governo intervir.

Por tudo o que tem acontecido de errado no mundo, em termos de crescimento e de estabilidade financeira, já é hora de desconfiarmos da onipotência dos mercados. Eles ainda são, por meio do mecanismo de preços livres, a melhor forma de coordenação da economia, mas não funcionam automaticamente sem a cooperação do Estado, e não sabem sair sozinhos das crises.

Aprofundar a contenção fiscal e buscar reduzir a dívida no momento em que o custo do endividamento está próximo de zero, a economia está parada, o desemprego está perigosamente alto e há descontentamento no ar, é um erro e um risco. É o mesmo que dançar à beira do abismo.