Jornal Correio Braziliense

Economia

Menor inflação desde 1998

Elevação do preço da gasolina pressionou o custo de vida na prévia de novembro, com alta de 0,14%, mas índice para o ano está abaixo da meta. Produtos alimentícios ainda pesam no bolso dos consumidores

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A prévia da inflação atingiu o menor índice para o mês de novembro em 21 anos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) teve crescimento de 0,14% em novembro, ante 0,09% no mês anterior. O valor é o menor para a inflação nos meses de novembro desde 1998, quando o índice registrado foi negativo em 0,11%. Os números foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o IPCA-15 acumula alta de 2,83% no ano. Já nos 12 meses imediatamente anteriores, o indicador está em 2,67%.

Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, explicou que o resultado do índice ressalta a expectativa de juros baixos contínuos no Brasil. Para ele, a chamada ;inflação Amazon; é a principal responsável por esse movimento. ;É o efeito da tecnologia que contribui para o controle da inflação. Os táxis, hotéis e lojas não conseguem subir preço, por exemplo, porque todo mundo compra esses serviços mais baratos online;, citou.

Para ele, não há estresse nessa variação positiva, porém pequena. ;Estamos extremamente abaixo da meta. Acho que o Brasil está precisando de tranquilidade inflacionária, uma vez que os mais velhos lembram da carestia forte que o país tinha há poucos anos. Então, não vejo mal no índice tão baixa. É uma oportunidade para reduzir os juros de maneira sustentável e longa. A inflação controlada vale ouro;, acrescentou. Spyer lembrou, no entanto, que o fenômeno não é local e sim característico da economia global. ;O mundo está desacelerando com inflação baixíssima;, destacou.

O IPCA-15 é considerado uma prévia da inflação oficial e foi puxado pelo grupo Transportes, que registrou avanço de 0,30%. O destaque ficou para o impacto no preço da gasolina, que subiu 0,80%, e do etanol, com alta de 2,53%. As passagens aéreas também registraram aumento considerável, de 4,44%.

O funcionário público do Distrito Federal Valdimar Pereira, 59 anos, que gasta, em média, R$ 700 por mês com combustível, se queixa que as altas constantes nos preços apertam o orçamento. ;Eu abasteço com gasolina e está muito cara. Prejudica em tudo. Como eu trabalho com o meu carro todo dia, quando chega no fim do mês, percebo que destino muito dinheiro para combustível. Acho que poderia fazer outros consumos essenciais;, argumentou. Na tentativa de fugir do alto custo da gasolina, ele opta por usar o transporte coletivo algumas vezes.

Carne cara


Após três meses seguidos de deflação, o grupo Alimentação e Bebidas registrou leve expansão de 0,06% nos preços de novembro. As carnes se destacam com alta de 3,08% e peso de 0,08 ponto percentual no índice geral. Em 12 meses, a alta do produto alcança 7,76%, valor que representa mais que o dobro da inflação.

A inflação nos alimentos já foi sentida no bolso dos consumidores. Mesmo com um gasto médio de R$ 1 mil por mês em produtos alimentícios, a degustadora Francisca Letícia Ferreira Gomes, 22, moradora do Valparaíso, deixa de levar produtos que gostaria por conta da variação dos preços. ;Quase todos os dias estou em mercado comprando carnes, peixes e materiais de limpeza. Mas o que mais subiu foi a carne vermelha. Por isso, acabo deixando de levar coisas que poderia e são tão importantes quanto a carne. Foram muitas as vezes em que deixei de levar mercadorias;, lamentou. Com o intuito de driblar a inflação, ela faz pesquisas de preços nos mercados, optando pelo que menos impactará no bolso.

A aposentada dos Correios Socorro Conrraquino, 70, também reclamou do custo de vida elevado em Brasília e da instabilidade dos preços. ;Os valores dos produtos variam muito, nunca se sabe quando está caro. Hoje mesmo não pude comprar aquilo que eu gostaria. Me atrapalha bastante no orçamento porque acabo gastando mais do que deveria em algumas coisas;, disse.

Para o ano, a estimativa do relatório semanal Focus do Banco Central para a inflação está em 3,31%. O número está abaixo da meta para 2019 que é de 4,25%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O cenário de inflação mais fraca e controlada abre portas para que o BC continue no caminho de redução da taxa básica de juros. A expectativa é de que a Selic, que está em 5% ao ano, sofra mais uma queda na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), em dezembro. Os juros básicos podem cair para 4,5% ao ano.

* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza