O executivo José Carlos Grubisich, ex-presidente da petroquímica Braskem, foi preso nesta quarta-feira, 20, em Nova York, sob acusação de comandar um intricado esquema de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e pagamento de propinas. De acordo com informações do Departamento de Justiça americano (DoJ), cerca de US$ 250 milhões (mais de R$ 1 bilhão) foram direcionados para um fundo com o objetivo de financiar atos de corrupção.
Grubisich foi preso ao chegar ao Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, pela manhã, onde passaria uma semana de férias com a mulher, Kátia. As acusações haviam sido definidas em fevereiro e foram mantidas sob segredo de Justiça por oito meses para facilitar a prisão de Grubisich quando ele estivesse em solo americano, informou o DoJ no documento que explica o caso.
Os detalhes das acusações foram divulgados por volta das 18h30, em Nova York.
Segundo o DoJ, as investigações sobre o executivo correm desde 2015 e se referem a pagamentos ilegais feitos entre 2002 e 2014, sendo que parte das acusações envolvem a Odebrecht. Ele foi presidente da petroquímica do grupo brasileiro - um dos pivôs da Operação Lava Jato e hoje em recuperação judicial - entre os anos de 2002 e 2008.
A acusação lembra que, apesar de ter deixado o principal cargo executivo da Braskem em 2008, Grubisich manteve um assento no conselho de administração da petroquímica até 2012. Depois disso, atuou por mais dois anos como consultor externo do Grupo Odebrecht.
Nos Estados Unidos, ele está sendo defendido pelo advogado Glen Kopp, do escritório Meyer Brown. O escritório Toron, Torihara e Szafir Advogados, de São Paulo, também acompanha a defesa de José Carlos Grubisich. A informação da prisão foi originalmente revelada pela agência Reuters.
De acordo com o Departamento de Justiça, o risco de fuga do executivo é alto. Essa afirmação é justificada pelo fato de o executivo ser brasileiro. O País não tem acordo de extradição de cidadãos que estão sendo investigados em outros países. Ao ser ouvido em uma Corte de Nova York, na tarde de quarta, Grubisich se declarou inocente das acusações. A mulher do executivo se disse "perplexa" com a prisão.
Ajuda de Wesley e Joesley
Presente à audiência em que Grubisich ouviu as acusações, o Estadão/Broadcast presenciou o executivo orientar a mulher a dar imóveis como garantia para uma eventual fiança. Ela ainda foi orientada a procurar os empresários Joesley e Wesley Batista, também alvo de escândalos de corrupção, para pedir ajuda. Depois de sair da Braskem, o executivo foi presidente da Eldorado Celulose, do grupo J. "Katia, fica em paz. Tá tudo bem (...) Liga também para o Joesley e o Wesley."
Nesta quarta-feira, o pedido inicial de libertação sob fiança foi negado. A próxima deliberação sobre o caso será realizada entre sexta-feira (22) e a próxima segunda-feira, de acordo com o advogado Alberto Toron, que representa o executivo no Brasil.
Toron disse ter "estranhado" a operação nos Estados Unidos, já que as acusações do Departamento de Justiça (DoJ) americano se baseiam em fatos ocorridos no Brasil, sendo que por aqui Grubisich não responde pelas acusações imputadas pela Corte americana. A justificativa do DoJ, frisou ele, é que foram assinados livros com dados da Braskem que afetam a regulação da Securities and Exchange Commission (SEC, uma espécie de CVM americana).
No documento de acusação, o DoJ afirma que, na época em que era CEO da Braskem, Grubisich "concordou em falsificar parte dos balanços e arquivos da Braskem para esconder o esquema de corrupção, tendo assinado documentos falsos que foram submetidos à SEC".
O documento explica ainda que, para esconder o direcionamento dos recursos para propinas, o executivo orientou a falsificação de balanços da Braskem, registrando os pagamentos de propinas a companhias de fachada controladas pela petroquímica como "comissões". Grubisich também assinou documentos afirmando que as informações anuais da companhia eram verdadeiras.
Outro acordo
Os atos de corrupção da Braskem já foram alvo de um acordo de US$ 3,6 bilhões que envolveu os atos de corrupção da Odebrecht e da petroquímica no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça. O DoJ não informou como a investigação sobre Grubisich se relaciona ao acordo fechado em 2016. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.