"Se o filho do Bolsonaro entra no Twitter e fala umas coisinhas, o dólar sobe, é muita volatilidade"
José Luiz Gandini, presidente da Abeifa
José Luiz Gandini, presidente da Abeifa
Há outros fatores que explicam a alta do dólar. Segundo o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a frustração com a entrada de dólares por meio do leilão da cessão onerosa levou à recente elevação da moeda americana. O leilão da cessão onerosa (excedente do volume de petróleo e gás que a União cedeu à Petrobras) teve uma arrecadação de R$ 69,960 bilhões em bônus de assinatura. A previsão de arrecadação era de até R$ 106,5 bilhões.
;Houve um movimento mais recente, que foi a cessão onerosa. Alguns agentes esperavam uma entrada de recursos maior;, disse Campos Neto durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. ;Muitos agentes de mercado se posicionaram para capturar o dólar caindo com essa entrada. Como isso não ocorreu, houve uma saída de dólares. Mas estamos monitorando isso de perto;, afirmou.
Enquanto o setor produtivo atravessa a turbulência cambial, empresários e importadores buscam alternativas para driblar o sobe e desce da moeda americana. Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), José Luiz Gandini, que também é presidente da Kia Motors, a grande aposta dos importadores é que o governo vai cumprir a promessa de terminar o mandato com o imposto de importação menor, na casa dos 20%, contra os 35% cobrados atualmente.
Câmbio
Gandini, no entanto, afirma que a volatilidade do câmbio e a economia fraca atrapalharam as vendas de carros importados no Brasil no primeiro semestre. Além disso, o empresário tem reclamado que o cenário político deixa o ambiente mais confuso. ;Se o filho do Bolsonaro entra no Twitter e fala umas coisinhas, o dólar sobe, é muita volatilidade;, disse. Na primeira metade do ano, Gandini apostava que o câmbio ficaria em um patamar de R$ 3,80.
No curto e médio prazos, o dólar deve continuar pressionado. Segundo gestores da Kapitalo e da SPX, durante evento da XP Investimentos, em São Paulo, há uma série de fatores que continuarão impactando a cotação da moeda, entre eles a queda do diferencial de juros em relação aos Estados Unidos, o pré-pagamento de dívidas no exterior pelas companhias brasileiras e a forte queda das exportações do país. ;Com números de conta-corrente piores, não acho que é o momento de apostar em uma virada do câmbio e de fazer posições significativas compradas em reais;, afirmou, em entrevista ao Valor, Rogério Xavier, sócio da SPX. (NC)