A curva de juros acompanhou bem de perto a movimentação do câmbio nesta terça-feira, com as principais taxas ora em leve alta, ora em leve baixa, mas sem se distanciarem muito dos ajustes de segunda. De todo modo, a manutenção da moeda na casa dos R$ 4,20 já mexe com as apostas para o ciclo de afrouxamento monetário, agora com precificação majoritária na curva de que o corte da Selic em 0,50 ponto porcentual em dezembro será o último. Mesmo as apostas de redução de 0,50 ponto em dezembro, amplamente sinalizada pelo Copom na última ata, não são consenso.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,66% (regular) e 4,64% (estendida), de 4,679% segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 5,821% para 5,80% (regular e estendida). A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,39% (regular e estendida), de 6,361%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,71% (regular e estendida), de 6,681%.
"O movimento da curva é totalmente atrelado ao dólar, com o mercado tentando entender o cancelamento dos leilões pela manhã. À tarde, o câmbio teve alguma realização e isso apagou o viés de alta do DI", disse a economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Helena Veronese.
Para ela, o destaque foi a ponta curta, refletindo a percepção sobre a política monetária, uma vez que o trecho longo ficou "bem resolvido" após a reforma da Previdência.
A percepção mais conservadora sobre a Selic cresceu depois que o dólar bateu a máxima histórica nos R$ 4,20 na segunda e nesta terça devolveu muito pouco do que avançou nesta segunda-feira. Pela manhã, a moeda chegou a bater nos R$ 4,22. Embora o dólar tenha impacto na percepção sobre a Selic, por enquanto não há alteração relevante na avaliação do cenário para os preços. "Se o dólar continuar subindo, uma hora o BC terá de rever seu plano de voo, mas o cenário para a inflação é muito tranquilo", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
A questão agora é saber se a cotação na casa dos R$ 4,20 veio para ficar e o quanto isso vai contaminar a inflação e as expectativas futuras. Nesse sentido, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez um alerta durante sua participação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Não houve piora nas expectativas de inflação, que é o que nos importa. Mas se a desvalorização cambial começar a afetar expectativas de inflação, teremos que fazer atuação diferente", alertou.
Segundo Rostagno, a curva precifica queda de 42 pontos-base para a Selic em dezembro, ou seja menos do que os 50 pontos já indicados pelo BC. Com isso, a probabilidade de redução de 0,50 ponto na próxima reunião é de 68%, contra 22% de chance de redução de 25 pontos-base. Para fevereiro, a curva aponta Selic de 4,44%. "Se houver mesmo o corte de 0,5 ponto em dezembro, praticamente zera a chance de novo corte em fevereiro", disse o estrategista.