Nelson Cilo
postado em 13/11/2019 06:00
[FOTO1]São Paulo ; Uma das atividades que mais sentiram os efeitos da crise econômica nos últimos anos, o setor de caminhões vive agora uma situação antagônica ; e simboliza o reaquecimento do ritmo industrial e das perspectivas mais positivas para o país nos próximos anos.
No acumulado de 2019 até outubro, as entregas alcançaram 83,6 mil unidades, alta de 37,9% em comparação ao contabilizado no ano anterior, quando houve 60,7 mil emplacamentos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
De acordo com a entidade, há uma clara trajetória de recuperação do mercado. ;O setor de caminhões mostra crescimento robusto, que cria boas expectativas para o futuro;, diz Marco Antonio Saltini, vice-presidente da Anfavea para o segmento de pesados. ;O desempenho até aqui confirma nossa projeção para 2019, de uma evolução de 35%, e indica claramente a mudança de patamar ocorrida nos últimos dois anos, em um ambiente de negócios que está melhorando pouco a pouco.;
Segundo Saltini, a melhora geral é resultado das recentes mudanças na economia, impulsionadas principalmente pelas reformas que estão sendo apresentadas pelo governo. ;O que a gente percebe é um movimento muito grande no setor de caminhões e veículos comerciais, de modo geral. Os clientes estão procurando negócios, e isso mostra uma mudança de patamar, com vendas que estão muito acima dos resultados do ano passado;, afirma Saltini. ;Há uma retomada ainda lenta da economia, mas o mais importante é a expectativa de que o próximo ano ainda possa ser melhor, continuar crescendo em níveis sustentáveis e que permitam avanços;, observa o executivo da Anfavea.
O mercado deve fechar o ano com 102 mil caminhões vendidos. O último registro acima de 100 mil pesados ocorreu em 2014, com 137 mil emplacamentos. A previsão inicial dos revendedores era de 88 mil unidades licenciadas, o que corresponderia a uma alta de 15%. Já no mês passado, as vendas fecharam com pouco mais de 9,4 mil unidades, volume 19,3% superior ao anotado no mesmo mês de 2018, quando os licenciamentos somaram 7,9 mil caminhões.
O bom desempenho no mercado interno ajudou a amortecer os impactos da crise na Argentina, o maior comprador de veículos do Brasil. As exportações brasileiras para lá continuam preocupando as montadoras. Pelos cálculos da Anfavea, apesar de o embarque de 1,5 mil caminhões em outubro ter gerado alta de 52% em relação ao volume de setembro, os resultados nas comparações anuais seguem muito ruins, com quedas de 13,4% sobre outubro de 2018 (1,7 mil unidades) e de 48,9% no acumulado do ano, de 22,1 mil veículos embarcados no ano passado.
Ano forte
Embora persistam as incertezas no cenário externo, os principais fabricantes de caminhões do Brasil se dizem otimistas com as perspectivas de crescimento da economia brasileira, o maior mercado consumidor da América Latina. ;Depois de superadas as dificuldades causadas pela crise a partir de 2015, estamos respirando otimismo novamente;, disse Martin Lundstedt, presidente-executivo do Grupo Volvo, em encontro com jornalistas durante a Fenatran, o maior evento de caminhões do país. ;A América Latina, mesmo com as recentes turbulências políticas, está voltando a crescer. Não temos do que reclamar. O ano está muito forte.;
Esse ambiente positivo, que inspira o otimismo das montadoras, pode ser ainda melhor se as projeções de alta do PIB se confirmarem. ;O crescimento econômico projetado para 2019, ainda abaixo de 1%, pode gerar um efeito exponencial, se atingir algo entre 1,1% e 1,2%;, afirma o economista Marco Antônio Piovesani, especialista em políticas industriais da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De fato, as previsões têm sido revisadas para cima, inclusive pela própria Anfavea. A expectativa agora é de que as vendas domésticas de caminhões no Brasil cresçam 35%, enquanto a produção avance 8%, prejudicada pela crise na Argentina. ;Historicamente, o mercado de caminhões sinaliza os rumos da economia. Está sempre à frente da curva e à frente do crescimento econômico", diz Wilson Lirman, executivo da Volvo na América Latina.
Líder de mercado no Brasil, com cerca de 30% de participação de mercado, a Mercedes Benz também aposta que 2020 será um ano ainda melhor para o mercado de caminhões. Além da volta da confiança, as boas perspectivas são alimentadas pela queda na taxa básica de juros ; que reduz o custo dos financiamentos e reativa a economia como um todo ; e pelas projeções de bom desempenho para o agronegócio, o grande motor da indústria de cami- nhões. ;Temos taxas de juros significativamente reduzidas, além de um cenário de reaquecimento do setor de construção civil e do varejo;, afirma Philipp Schiemer, presidente da Mercedes -Benz na América Latina.
Bom momento também para usados
Embora em ritmo mais discreto, as vendas no mercado de veículos usados também estão em alta. A demanda apresentou leve aumento, de 2,1%, no acumulado do ano até outubro, com um total de 9,44 milhões de unidades transferidas, de acordo com dados divulgados pela Fenabrave, que reúne o setor de distribuição. O volume considera a soma de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Na média, para cada veículo novo vendido ao longo dos 12 meses acumulados deste ano, o segmento usado vendeu 4,2 veículos.
Em todos os segmentos, tanto de leves quanto de pesados, os desempenhos foram semelhantes no período, também com crescimento dos volumes na casa dos 2%. Nos leves, que somam as transferências de automóveis e comerciais leves, a entidade mostra que pouco mais de 9 milhões de unidades trocaram de proprietário.
Favorável
Os dados isolados apontam que um total de 7,8 milhões de automóveis e 1,2 milhão de comerciais leves usados foram vendidos no período. Já o segmento pesado, que considera a soma de caminhões e ônibus, encerrou os 10 meses fechados no ano com 349 mil unidades usadas vendidas, das quais 306,2 mil são caminhões e 42,7 mil, ônibus.
Na avaliação do vice-presidente da Anfavea, Marco Antonio Saltini, o horizonte é favorável para 2020. Além dos bons números de vendas em 2019, a entidade aposta em indicadores econômicos, como a queda do risco-país para investidores, o crescimento da confiança do consumidor, inflação contida, juros nos níveis mais baixos da história nacional e bancos com apetite de financiar as vendas do setor. Segundo a Anfavea, esses fatores devem fazer o PIB voltar a crescer mais a partir de 2020, puxando para cima todo o setor e a economia.