A semana no mercado de ações encerrou com os investidores se desfazendo de suas posições, mesmo após terem absorvido a frustração com os dois leilões de petróleo e gás, com resultado negativo para o governo. Em um dia de baixa, nesta sexta-feira o Ibovespa acelerou o ritmo de perdas para perto de 2% minutos após a notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava liberado da prisão.
Por volta das 16h30, o índice à vista passou a operar na faixa dos 107 mil pontos, zerando os ganhos da semana, mas ainda segurando levemente no mês de novembro (+0,38%). Durante a sessão de negócios, o indicador variou 2,4 mil pontos entre a máxima (109.572) e a mínima (107.126) intraday, para terminar o pregão com desvalorização de 1,78%, aos 107.628,98 pontos.
Na avaliação do economista-chefe do banco digital ModalMais, Álvaro Bandeira, o noticiário deu impulso à realização de ganhos acumulados na esticada de cinco mil pontos do índice à vista desde o final de outubro. "A soltura de Lula já estava mais ou menos no preço. O mercado já estava meio que esperando a decisão do Supremo desde que a ministra Rosa Weber mudou o voto", disse.
No entanto, para ele, apesar dos ruídos que podem haver com a intensificação da polarização, se o governo seguir tocando a agenda liberal e reformista, não deve comprometer a tendência até agora vista para a Bolsa. "Por enquanto não dá para assustar, vamos ver os desdobramentos."
Nesse meio tempo, o senador José Serra (PSDB-SP) protocolou requerimento solicitando dados que embasaram a elaboração das três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) do pacote 'Mais Brasil', em tramitação no Senado. O senador quer saber informações detalhadas, entre elas a economia esperada das medidas e a memória de cálculo das projeções.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, poderá ter de abrir em até 30 dias todos os dados e, caso contrário, a tramitação das PECs ficará sobrestada, interrompendo seu andamento na Casa. A recusa em fornecer as informações é crime de responsabilidade.
Mas, de maneira geral, olhando os fundamentos macroeconômicos, não deveria haver alterações no cenário com que os investidores trabalharam até agora. Para Bandeira, se China e Estados Unidos engrenarem o acordo comercial de fato a situação pode se sobrepor, uma vez que aumentam as chances de reduzir o ritmo de desaceleração global. Nesta tarde, o presidente americano, Donald Trump, expressou sua resistência para reverter as tarifas comerciais sobre produtos chineses para fechar a "fase 1" de um acordo com Pequim. O governo da China pede essa reversão como prova de boa vontade aos EUA.