Após se movimentar durante muito tempo a reboque de eventos internos, nesta quinta-feira o mercado internacional teve um papel relevante na curva de juros doméstica, que, a exemplo de quarta, continuou ganhando inclinação. As taxas já subiam pela manhã, pressionadas pelo dólar e pelos dados de inflação locais acima da mediana das estimativas. Mas o avanço teve um impulso à tarde, principalmente na ponta longa, em função da disparada do rendimento dos Treasuries. Com a T-Note de dez anos no maior nível desde o fim de julho, o dólar novamente perto dos R$ 4,10 e números de inflação reforçando a percepção de que dificilmente os índices de preços voltarão a surpreender para baixo no curto prazo, o mercado de juros aproveitou para realizar lucros.
Após fecharem a sessão regular em alta, as taxas continuaram avançando na etapa estendida. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou o dia na máxima de 4,55%, após 4,54% na regular e 4,489% na quarta no ajuste. A do DI para janeiro para 2023 fechou a regular com taxa de 5,62% e a estendida, em 5,64%, de 5,571%. A taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 6,141% para 6,21% na regular e 6,22% na estendida. A do DI para janeiro de 2027 avançou de 6,471% para 6,54% (regular) e 6,56% (estendida).
As taxas encerraram o dia nos picos desde meados de outubro, num movimento de correção que teve início quarta, com a frustração com o leilão da cessão onerosa, que, ao contrário do que se esperava, não gerou interesse do investidor estrangeiro. Este era considerado o último grande evento do ano capaz de trazer mais alívio às taxas, que nas últimas semanas vinham renovando mínimas históricas. Ou seja, há grande espaço para correções. Nesta quinta, o desconforto aumentou um pouco com o leilão de áreas de pré-sal, que teve apenas um dos cinco blocos licitados.
"As taxas sobem com realização de lucros, puxadas pelo dólar. E tem ainda o peso do lado fiscal depois dos leilões. Afinal, o governo ficou 'short' nas receitas em R$ 30 bilhões para fechar as contas este ano", disse Vitor Carvalho, sócio-gestor da LAIC-HFM.
À piora da percepção do risco fiscal, a ponta longa teve ainda o 'input' negativo vindo dos Treasuries, com o yield da T-Note de dez anos abrindo cerca de 10 pontos-base num único dia e voltando a ser negociado acima de 1,90%.
Internamente, o IPCA (0,10%) e o IGP-DI (0,55%) de outubro acima das respectivas medianas das estimativas, de 0,07% e 0,47%, contribuíram para a redução da exposição ao risco. Não que trouxessem preocupações sobre o quadro inflacionário, pois o IPCA em 12 meses de 2,54% está abaixo do piso da meta para este ano (2,75%) e com núcleos bem comportados. Porém, "o mercado começa a perceber que o que tinha de downside para a inflação já foi e os últimos meses do ano são sazonalmente de pressão no câmbio", afirma Vitor Carvalho.