Economia

51% da população mundial têm acesso à internet, mostra estudo da ONU

Utilização da web no mundo todo supera os 51% da população, e o Brasil está à frente de vários países, inclusive muitos desenvolvidos. Mas a extensão territorial continua a ser um problema, assim como o preço do serviço

Cristiane Noberto*, Catarina Loiola*
postado em 04/11/2019 06:00

[FOTO1]Ao completar 50 anos, a internet se tornou um serviço sem o qual não se pode mais viver. Hoje, meio século depois de o primeiro pacote de dados ser transmitido entre computadores de duas universidades diferentes na Califórnia, Estados Unidos, em 29 de outubro de 1969, mais da metade da população mundial (51%) tem acesso à rede, segundo relatório Estado da Banda Larga 2019, produzido pela Comissão de Banda Larga das Nações Unidas. Na corrida pela universalização, um estudo, divulgado em 2017, aponta que o Brasil está na frente de muitos países, inclusive vários entre os chamados desenvolvidos. O avanço, no país, só é possível graças aos mais de 12 mil provedores regionais, que chegam aos lugares mais remotos.

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgou recentemente que o país teve 228 milhões de acessos ao mês por internet móvel e 32,6 milhões, em banda larga fixa, dos quais as prestadoras de pequeno porte (PPPs) ocupam o segundo lugar no ranking de abastecimento, com alcance a 9.195.290 dos domicílios (28,3%). Segundo o órgão regulador, nos últimos 12 meses, houve um aumento de 2,44 milhões (34,59%) de domicílios atendidos por PPPs na banda larga fixa. Essas empresas totalizaram 9,49 milhões de assinantes (29% do total), em setembro de 2019, e foram as principais responsáveis pelo crescimento do serviço no país, que alcançou 32,68 milhões de domicílios, aumento de 1,77 milhão (5,74%).

Para a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), os provedores são os maiores responsáveis por levar banda larga nos lugares mais remotos do país, como pequenos municípios e zonas periféricas, onde as grandes empresas não atuam. ;Estamos presentes na maioria nas cidades de interior e periferia das grandes capitais, pois os centros das cidades são atendidos pelas grandes operadoras e não têm uma competição muito justa. Mesmo assim, somos os responsáveis por chegar às extremidades;, conta o presidente do Conselho da Abrint, André Felipe Rodrigues. ;Tem provedores em todos os cantos do Brasil que você imaginar e a maioria do nosso público é de classes C e D. Atualmente, se somar todos juntos, somos os que mais ofertam internet em todo o país;, diz.

Acessos

Estudo realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros em 2018, divulgado em agosto, revela que 39% dos acessos à internet são feitos por banda larga fixa em conexão via cabo de TV ou fibra óptica. Apenas 27% é em banda larga móvel, feita por modem ou chip 3G ou 4G, e 10% ainda utilizam banda larga fixa com conexão via linha telefônica (DSL). A mesma pesquisa revela que a maioria das pessoas utilizam a internet por meio do celular (97%). Em seguida, os principais dispositivos para acesso são computador (43%), televisão (30%) e videogame (9%).

A Pnad Contínua TIC 2017, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que investiga o acesso à internet e à televisão, revelou que 74,9% dos domicílios têm acesso à banda larga. Nos 17,7 milhões de lugares onde não houve utilização da internet, no período da pesquisa, os motivos indicados pelos entrevistados foram, principalmente, a falta de interesse em acessar a internet, o preço, a falta de conhecimento sobre o uso e a indisponibilidade na área do consumidor.

Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), os maiores desafios para a universalização da internet no país são questões geográficas e falta de educação tecnológica ofertada nos lugares com rendas mais baixas. ;Existe um número razoável de domicílios que não têm interesse ou não se sentem capacitados para usar a internet. Temos que fazer um trabalho de educação tecnológica para que a internet chegue a essas regiões;, aponta Artur Coimbra, diretor do Departamento de Banda Larga da Secretaria de Telecomunicações do ministério.

Para tanto, o MCTIC promove programas em parceria com outros órgãos municipais, estaduais e ministérios que permitem esse desenvolvimento. Esse é o exemplo da parceria com telecentros, a atuação nas mais de 50 mil estações de cidadania e o mais recente: norte conectado, que permitirá a atuação dos provedores regionais.

PIB sobe e avança o desenvolvimento


A internet impacta diretamente o desenvolvimento econômico de um país. A afirmação é do professor Luca Belli, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Direito Rio. Conforme salienta, ;a internet é capaz de aumentar substancialmente o PIB (Produto Interno Bruto). Isso deveria ser um incentivo enorme para o governo desenvolver políticas públicas para a expansão;. Ele ressalta que os benefícios da conectividade podem ser percebidos em diversos aspectos, como, por exemplo, na formação profissional e cultural.

Belli respalda que o acesso à internet é um direito garantido pelo artigo 7 do Marco Civil da Internet. ;A legislação garante a conectividade ao cidadão. Isso gera um leque de oportunidades de desenvolvimento social, econômico, cultural;, explica. Por esse motivo, Belli considera que as pessoas não deveriam ter tanta dificuldade para ter navegação de qualidade.

Para o comerciante Rodrigo de Souza, 42, a internet do país poderia ser mais barata e melhor. ;É muito caro e às vezes nem é como a propaganda promete. O mundo de hoje em dia é melhor até sem. Você fica mais à vontade com a família e menos preso a esse mundo virtual que está atrapalhando tanto o convívio de todo mundo;, filosofa. Ele, que gasta mensalmente em torno de R$ 350 com internet, assegura que pode viver sem ela caso o valor aumente e não caiba mais no orçamento.

A copeira Francisca Machado, 55, compartilha da mesma opinião. Conta que o dinheiro utilizado com internet faz falta no fim do mês, mas admite que não pode ficar sem. Ela usa para se comunicar com a família, olhar redes sociais e para que os filhos estudem. No entanto, considera dispensável. ;Eu não deixaria de pagar outras contas para ter internet. Tenho compromissos mais importantes.;

Diferentemente de Tânia Gomes, 29, que, se precisasse, deixaria de pagar outras contas para usufruir da internet, pois a utiliza para vender seus produtos e obter renda. ;Tenho internet em casa e no celular, com pacotes diferentes. Preciso de internet 24 horas, porque vai que um cliente quer falar comigo. Não dá para ficar sem;, garante.

* Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi

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