[FOTO1]Entidades representativas do funcionalismo querem combater o discurso de que o servidor público é privilegiado. Analistas observam que esse conceito está presente há anos no imaginário dos brasileiros e foi especialmente reforçado desde quando o ex-presidente Fernando Collor se lançou na política como ;caçador de marajás;. Sindicalistas dizem, porém, que há um problema grave nessa avaliação, embora concordem que haja, de fato, privilégios que devam ser revistos, como o auxílio-moradia para juízes. ;No entanto, a generalização desse pensamento, muitas vezes alimentado pela mídia, para nós é um grave desserviço;, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).
Ronaldo contesta dados recentemente divulgados por instituições de pesquisa que sinalizam que 44% dos servidores ganhariam acima de R$ 10 mil e garante que essa não é a realidade no Executivo federal. ;Mais de 60% em final de carreira não chegam a receber mais que R$ 9 mil, somadas as gratificações;, afirma. No nível médio, acrescenta, os salários não se aproximam sequer ao valor do teto do INSS (R$ 5.839,45). ;O diálogo amplo com a sociedade é fundamental, pois quem está na linha de frente de atendimentos essenciais são justamente as carreiras sobrecarregadas e com falta de pessoal, que recebem salários, às vezes, menores do que os praticados na iniciativa privada;, destaca.
De acordo com as entidades, há claras divergências nos salários e também nos reajustes que vêm sendo concedidos ao longo do tempo, pois quem tem maior remuneração acaba tendo percentual maior de correção. Um professor universitário com doutorado e dedicação exclusiva ganhava R$ 6.639 em 2015. Com o aumento negociado naquele ano, passou a receber R$ 9.585, em 2019. Já um diplomata, com reajuste de 27,9%, saltou para R$ 19.199, no período. E um delegado da Polícia Federal, pulou de R$ 16.830 para R$ 23.692, depois de um aumento de R$ 40,8%. O grande problema não é a disparidade ou a preferência por cargos da elite do funcionalismo. A questão é mais profunda, na análise de Jorge Patrício, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Rio Grande do Sul (Sindsprev/RS).
Embora o Instituto Nacional do Seguro Social divulgue números favoráveis ao Meu INSS, ;uma ferramenta criada para facilitar a vida dos segurados;, na prática o instrumento se tornou um estorvo para servidores e aposentados, diz Patrício. Segundo ele, os funcionários do órgão estão sofrendo uma pressão ;inusitada;. ;Estamos proibidos de dar o atendimento necessário;, afirma. De acordo com o sindicalista, se o servidor demora dando explicações mais longas para idosos acima de 80 anos ou cidadãos com baixa escolaridade, que não estão familiarizados com a internet, é controlado pelo chefe e ameaçado de responder a processo administrativo disciplinar (PAD), por desobediência.
A falta de pessoal, diz Patrício, acaba prejudicando os próprios cidadãos que dependem do serviço público. ;Quando idosos e pessoas semianalfabetas não conseguem fazer o pedido pelo 135 (número do atendimento), ficam à mercê de despachantes picaretas que se aproveitam da situação e cobram bem caro para fazer algo que é gratuito;, observa.
Para representantes da categoria, há uma estratégia que vem sendo usada há muitos anos quando se quer culpar o servidor e apontá-lo como o principal responsável pelo rombo nas contas públicas. ;Não se investe, não se faz concurso, não se mostra o lado bom. A saída é sucatear. Como a sociedade não sabe o que acontece nos bastidores, fica fácil convencê-la de que o Estado é caro, pesado e corrupto;, afirma Sérgio Ronaldo, da Condsef.
;Não se investe, não se faz concurso, não se mostra o lado bom. Como a sociedade não sabe o que acontece nos bastidores, fica fácil convencê-la de que o Estado é caro, pesado e corrupto;
Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Condsef.