O fato de o Brasil não ter sido indicado agora pelos EUA para a OCDE mostra que os americanos priorizarão seu interesse de não aumentar o número de membros do bloco. "Os países não têm amigos, têm interesses. Como era mais fácil os EUA seguirem seu interesse? Indicando a Argentina (...), que não poderá cumprir os compromissos exigidos pela OCDE", disse o ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa. A seguir, trechos da entrevista.
A Argentina havia pedido apoio dos EUA antes do Brasil. Era natural que fosse indicada antes?
Minha interpretação é que, como o pedido da Argentina era mais antigo e o país está em uma situação muito ruim, não vai entrar tão cedo na OCDE, resolveram apoiar a Argentina. Os EUA são contra o aumento do número de países membros da OCDE. Se apoiassem o Brasil, que já está aderindo a convenções da organização, seria um processo mais rápido. Isso não quer dizer que, no futuro, os EUA não venham a apoiar o Brasil. Agora, tudo isso mostra que os países não têm amigos, têm interesses. Os EUA colocaram em primeiro lugar o interesse deles, que é não aumentar o número de países. Como era mais fácil seguir o interesse deles? Indicando a Argentina, que está muito debilitada. Ela não vai poder cumprir os compromissos que são exigidos dos países que pretendem entrar na OCDE. O que ficou meio negativo foi os EUA terem preterido o Brasil pela Argentina na situação atual da Argentina.
A estratégia americana então é não mexer no bloco, apesar da indicação?
Você pode interpretar isso. Como eles são contra o aumento, colocaram dois países que terão dificuldade de cumprir as regras. Para o Brasil é ruim. Atrasa o processo de adesão.
Quando pode haver nova indicação de países?
É de tempos em tempos, mas não sei se há um cronograma.
O fato de o Brasil ter sido preterido indica que o País trocou o certo, o status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), pelo extremamente duvidoso?
Isso mostra o que disse antes, que os países não têm amigos, têm interesses. Você tem de defender o seu interesse. O Brasil não abriu mão do status de país em desenvolvimento. O que o Brasil concordou com os americanos foi abrir mão do tratamento especial e diferenciado, que é muito localizado na questão dos acordos comerciais, como tempo especial (para se adequar a uma norma). Agora, como os EUA não cumpriram isso, o Brasil pode voltar atrás também se quiser. Acho que o Brasil não vai fazer isso, mas pode. Se não houve o apoio ao Brasil agora - e eu não vejo num futuro próximo o pedido de o Brasil ser atendido -, aí o País fica livre para modificar essa posição.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.