Jornal Correio Braziliense

Economia

Latam e Disney recorrem a Star Wars para atrair brasileiros

As companhias lançaram aeronave pintada com um dos personagens da saga. Apesar do dólar acima de R$ 4, seus executivos não falam em promoções para driblar o impacto do câmbio



São Paulo ; Paulo Miranda, vice-presidente de Clientes da Latam Airlines, conversava com clientes e jornalistas em uma tenda hexagonal, no Centro de Manutenção de Linha da companhia, junto ao Aeroporto Internacional de Guarulhos (Grande São Paulo), quando foi interrompido por um grupo de Stormtroopers, os soldados da tropa de base do Império Galáctico no universo Star Wars. Teriam como missão levar o executivo de volta à Gol, de onde saiu há cinco meses, direto para a principal concorrente, depois de seis anos de casa?

A encenação, que congelou os convidados durante alguns segundos ; muitos deles fãs dos filmes da franquia ; foi preparada pela Latam e pela Disney para divulgar a primeira aeronave no mundo a ter na fuselagem a pintura de um dos personagens da saga Star Wars. Pelo acordo feito entre as duas empresas, a Boeing 777 voará com a caracterização por três anos. O avião se juntará a outros 777 da frota e, além do trecho São Paulo/Orlando, que marcou na noite de ontem o voo inaugural sob a nova estampa, também transportará passageiros para Nova York, Londres, Frankfurt, Miami e Madri.

Para a Latam, uma parceria como a que foi feita com a Disney traz visibilidade em um momento em que a companhia vem fazendo investimento pesado na reforma de 200 aviões, o que representa dois terços da frota atual. No fim de agosto, a empresa anunciou que prevê investimentos de cerca de US$ 500 milhões até o ano que vem, na reformulação dos sites e aplicativos, na mudança de softwares e outros confortos para os passageiros. Desse valor, 50% vêm sendo destinados ao Brasil, onde, até 2020, 100 aeronaves passarão pelo banho de loja.

A Disney, ao levar um dos Stormtroopers para a fuselagem do 777, que fará voos tanto no continente americano quanto no europeu, usa a ação de marketing para promover uma nova área no parque Hollywood Studios, a Star Wars: Galaxy;s Edge, inaugurada em maio passado, entre públicos de diferentes regiões. Além disso, pega carona desde já no clima de pré-lançamento, em 19 de dezembro, de Star Wars: A ascensão skywalker, e atrela a novidade à próxima atração do seu parque em Orlando, a Star Wars: Rise of the Resistance, previsto para iniciar a operação em 5 de dezembro.

Além do padrão Disney de atendimento em seus resorts e parques, o gigante de entretenimento sabe que não pode descuidar dos investimentos em novas atrações, sob o risco de perder público tanto para concorrentes nessa área quanto para outros tipos de diversão, principalmente no mundo on-line.

Apesar do aumento da competição, no entanto, a Disney se mantém na liderança no ranking global de parques temáticos, segundo relatório divulgado em maio passado, pela consultoria TEA/Aecom, com dados referentes a 2018. Em todo o mundo, os parques temáticos da Disney ocuparam os quatro primeiros lugares, liderados pelo Walt Disney World Magic Kingdom.

No entanto, os parques temáticos chineses continuaram a crescer no ano passado, segundo o estudo, liderados por ganhos percentuais de dois dígitos no Changzhou China Dinosaurs Park, Chimelong Paradise em Guangzhou e Chimelong Ocean Kingdom, que chegaram ao grupo dos top 10.

Planejamento

Todo esse esforço de Latam e Disney, tendo o Brasil como ponto de partida, ocorre em um momento em que o país ainda apresenta sinais fracos de recuperação da economia, com muita incerteza quanto ao que está por vir em 2020. Parte dessa indefinição se reflete no câmbio, o que afeta diretamente não só os custos de operação das companhias aéreas, que têm parte de seus custos atrelados à moeda americana, mas também nos planos de viagem dos brasileiros.



Para o executivo da Latam, a solução para os clientes que querem conhecer os parques de Orlando ou outro destino internacional, mesmo com o dólar acima dos R$ 4 ; ontem, o comercial fechou a R$ 4,1236 na venda ; é se preparar.

Miranda não comenta se a empresa pretende colocar em prática alguma estratégia agressiva de vendas, no caso de os destinos internacionais sofrerem com a queda da procura. Segundo o VP da Latam, não é apenas a economia do país que influencia na decisão de compra do passageiro, mas há outros fatores, como a própria expectativa de realizar o sonho de visitar um destino, como no caso dos parques da Disney. ;A indústria sabe que tem de se ajustar às condições de mercado;, avalia.

Esses ajustes no setor aéreo passam não só pelo valor das tarifas, como na oferta de frequências para determinados destinos. A Latam viveu nos últimos meses dois tipos de situação. Três meses depois de anunciar que passaria a oferecer voos a partir do Brasil para Munique, na Alemanha, a companhia voltou atrás, em fevereiro passado. Na outra direção, a empresa precisou aumentar o número de frequências para Lisboa, que agora são diárias, em decorrência da alta procura por passagens.

Atrações


O VP da Latam salienta que, apesar de ser preciso observar o comportamento dos clientes, da economia e da concorrência a todo momento, é preciso adotar uma visão de longo prazo, em razão do alto valor dos ativos. ;Estamos fazendo os ajustes necessários para melhorar a experiência do cliente;, diz, referindo-se ao investimento nas aeronaves.

Claire Bilby, vice-presidente sênior de Vendas da Disney Destinations, diz que os brasileiros continuam a representar um público importante para os parques da companhia e dividem espaço nas primeiras colocações entre britânicos e canadenses. Segundo a executiva, não houve queda na emissão de visitantes a partir do Brasil mesmo com uma debilidade econômica que se arrasta desde 2014.

;Os brasileiros são muito importantes, e essas visitas se mantêm em crescimento. Da nossa parte, continuamos a investir na oferta de inovação para atrair mais clientes;, diz a executiva da Disney.

Assim como Miranda, a executiva não fala da possibilidade de oferecer promoções para aumentar o número de visitantes brasileiros em seus parques. Para ela, os investimentos em novas atrações, como a área dedicada a Star Wars, é uma forma de continuar a manter a atratividade do público. Mas Claire lembra que a companhia recebe seus clientes em diferentes padrões de hotéis ; ou seja, tanto aqueles com um limite intermediário no cartão de crédito quanto os que não se preocupam com o valor da conta.


  • Os 20 principais parques temáticos do mundo

    Nome Número
    de visitantes Crescimento em relação a 2017
    Walt Disney World Magic Kingdom 20.859.000 2%
    Disneyland 18.666.000 2%
    Tokyo Disneyland 17.907.000 7,9%
    Tokyo DisneySea 14.651.000 8,5%
    Universal Studios Japão 14.300.000 -4,3%
    Disney;s Animal Kingdom 13.750.000 10%
    Epcot 12.444.000 2%
    Shanghai Disneyland 11.800.000 7,3%
    Disney;s Hollywood Studios 11.258.000 5,0%
    Reino do Oceano de Chimelong 10.830.000 10,6%
    Universal Studios Florida 10.708.000 5%
    Disney California Adventure 9.861.000 3%
    Disneyland Paris 9.843.000 1,9%
    Ilhas da Aventura 9.788.000 2,5%
    Universal Studios Hollywood 9.147,000 1%
    Disneylândia de Hong Kong 6.700.000 8,1%
    Lotte World 5.900.000 -11,2%
    Nagashima Spa Land 5.920.000 -0,2%
    Everland 5.850.000 -7,3%
    Ocean Park 5.800.000 0%

    Fonte: Tea-Aecom/2018