Jornal Correio Braziliense

Economia

Adesão à OCDE ainda vai demorar

Indicação de Argentina e Romênia, que estão há mais tempo na fila, não indica que Estados Unidos retiraram o apoio à candidatura do Brasil à organização. Governo americano reitera apoio. Bolsonaro se mantém confiante de que país será aceito



O presidente Jair Bolsonaro está confiante de que o Brasil será aceito como membro pleno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado ;clube dos ricos;, mas reconheceu que o processo de adesão, iniciado em 2017, é demorado. ;Continuamos firmes e fortes e se Deus quiser, daqui a um ano, um ano e pouco, estaremos dentro;, disse, ontem, em vídeo nas redes sociais. ;Vai chegar a nossa hora;, declarou.

O comentário de Bolsonaro foram feitos após notícias do vazamento de uma carta do secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, para o secretário-geral da OCDE, na qual a Casa Branca não endossava a candidatura do Brasil, indicando apenas Argentina e Romênia. A notícia, publicada pela Bloomberg News, deixou a equipe econômica frustrada, de acordo com fontes próximas aos técnicos chefiados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Bolsonaro disse, no vídeo, que conversou ;duas vezes; com o presidente dos EUA, Donald Trump, e falou ;rapidamente; sobre a entrada do Brasil na OCDE. Segundo ele, o primeiro país para o qual ele pediu apoio foi Israel. O presidente reconheceu que havia dois candidatos na frente: Argentina e Romênia. ;A seleção é a conta-gotas para esse novo país entrar e cumprir tudo aquilo que está no estatuto;, afirmou. ;Não queremos torcer para que ninguém aí fique para trás. Eles escolhem um país da América do Sul e outro da Europa. Tem rodízio;, disse.

Pouco depois da live de Bolsonaro, o secretário Mike Pompeo negou, em rede social, que os EUA retiraram o apoio à candidatura do Brasil para ser membro da OCDE. Contudo, ele não desmentiu a existência da missiva. ;A carta vazada não representa com precisão a posição dos Estados Unidos em relação ao alargamento da OCDE;, escreveu. Pompeo acrescentou que, ;ao contrário da mídia;, os EUA mantêm apoio total ao processo de candidatura iniciado pelo Brasil, conforme a declaração conjunta dos presidentes Bolsonaro e Donald Trump (dos EUA), de 19 de março. Logo em seguida, Trump reafirmou as declarações do secretário e disse que a notícia da agência Bloomberg era ;fake news;.

Confirmação

A embaixada dos Estados Unidos no Brasil também publicou uma nota confirmando o apoio do país à candidatura brasileira, mas em uma ;expansão da OCDE a um ritmo controlado, que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governança e o planejamento de sucessão;. ;Todos os 36 países-membros da OCDE devem concordar, por consenso, com o calendário e a ordem dos convites para iniciar o processo de adesão;, concluiu o comunicado.

Em março, quando o presidente Bolsonaro foi a Washington e assinou a declaração conjunta com Trump, em parte, em troca do apoio do Brasil à entidade, o governo brasileiro fez várias concessões. Entre elas, permitiu aos norte-americanos o acesso à base de Alcântara, acabou com a exigência de visto para cidadãos americanos e concordou em abrir mão do status preferencial de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A economista Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University, em Washington, lembrou que a declaração conjunta causou surpresa na época, porque os EUA já tinham manifestado a preferência por Argentina e Romênia. O Brasil sabia disso, mas estava na expectativa de que ;poderia furar a fila;.

Uma das principais exigências para que o Brasil entre na organização, fundada em 1961, é a melhora do combate à corrupção, além de uma adequação do emaranhado de regras tributárias, o que vai demandar bastante tempo, segundo analistas. ;Confirmamos que seis membros em potencial se inscreveram na OCDE e estão atualmente sob avaliação do Conselho de Administração para adesão. Não comentamos as discussões em andamento, que são confidenciais;, informou a entidade.

Nos bastidores do Ministério da Economia, a palavra de ordem foi ;continuar o processo de convergência, regulação e governança com padrões globais, para permitir a inserção; na OCDE. Oficialmente, a pasta não comentou o assunto, mas Guedes deu declarações a alguns veículos de que sabia que o Brasil não era o primeiro da fila. O Ministério das Relações Exteriores também não comentou o assunto.