Jornal Correio Braziliense

Economia

Deflação do IPCA amplia apostas de corte da Selic e juros fecham em queda

A deflação de 0,04% do IPCA de setembro não estava na conta de boa parte do mercado financeiro e provocou um forte ajuste no mercado de juros nesta quarta-feira, influenciado ainda pela melhora do aumento do apetite pelo risco no exterior e pela movimentação em Brasília em torno das reformas. As taxas já caíam pela manhã e renovaram mínimas à tarde, na medida em que as instituições passaram a revisar suas previsões para o IPCA de 2019 e, em alguns casos para 2020, ampliando as apostas de corte da Selic. A curva a termo já projeta 100% de possibilidade de queda de 0,5 ponto porcentual da Selic em outubro e taxa básica de 4,48% ao término do processo de afrouxamento monetário no começo de 2020, segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos. A quarta-feira teve volume exuberante nos negócios com juros na B3, especialmente na ponta curta, onde se concentram as apostas para a política monetária nos próximos meses. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou com taxa de 4,954%, de 4,980% na terça no ajuste. A taxa do DI para janeiro encerrou em 4,71% (mínima), de 4,818%. A do DI para janeiro de 2023 fechou na mínima de 5,83%, de 5,971%, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou a 6,48% (mínima), de 6,611%. O IPCA de -0,04% em setembro - menor taxa para o mês desde 1998 - ficou no piso das estimativas do mercado e trouxe preços de abertura surpreendentemente benignos, em especial os núcleos. Em 12 meses até setembro, a inflação acumulada é de 2,89%, perto do piso da meta, de 2,75%. Depois da divulgação do índice, cresceram as expectativas de que a inflação de 2019 pode ficar perto, ou até abaixo, de 3%, e de que a Selic chegará a 4,5% no fim do ciclo. De 37 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast, pelo menos 27 reduziram as expectativas para o IPCA este ano após a leitura de setembro. Para 2019, a mediana ficou em 3,30%, mas há quem espere até 2,90%, caso da Kapitalo. "Como o crescimento permanece fraco e a inflação bem abaixo da meta, aumentam os riscos de que o Banco Central corte a Selic além da nossa previsão de 4,75% para o final do ano", alerta o Bank of America Merrill Lynch, em relatório. Os juros longos também fecharam em baixa, favorecidos pelo bom humor dos mercados internacionais, por sua vez amparados na expectativa de evolução do acordo entre a China e os Estados Unidos. Pelo lado político, a percepção de que as reformas estão andando em Brasília também deu alívio, apesar das divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o PSL, que indicam que o presidente deverá deixar o partido. Depois do fechamento na terça do acordo sobre a divisão de recursos da cessão onerosa, a expectativa é de que o projeto de lei sobre o tema seja votado ainda nesta quarta na Câmara. O acordo era essencial para destravar o andamento da reforma da Previdência no Senado.