Rumores de que Guedes deixaria o Ministério da Economia no ano que vem, desmentidos depois pela pasta, pressionaram os mercados. "No meio do pregão, isso até pode ter impactado, mas depois que desmentiram, acredito que não teve um impacto tão grande. Mas em alguns momentos, muitos investidores preferiram vender suas posições", explicou Elídio Almeida, analista de mercado da Valor Investimentos.
Para o especialista, os fatores externos pesaram mais do que os internos hoje, porém ele ressalta que a declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que será construído um novo texto de PEC da cessão onerosa, também impactou na queda da bolsa. "A lentidão de aprovar algumas ementas parlamentares também cria uma incerteza ao governo, adiciona riscos, e faz com que o mercado caia."
Em relação à cotação do dólar, especificamente, ele acredita que o principal motivo da alta foi "a queda constante da semana passada" e as tensões relacionadas ao acordo comercial entre China e EUA. Na próxima quinta-feira, as duas potências devem se reunir. "Muitos importadores começaram a fazer proteções com essa queda, recuperou-se pouco hoje por conta da incerteza sobre a reunião de quinta-feira. Pode ser que a China não feche acordo algum com os EUA", avaliou Almeida.
O economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, também reforçou que o principal fator para a alta do dólar foi a "aversão ao risco de um cenário internacional". "O desaquecimento da economia global vem sendo demonstrado por meio da produção industrial, que caiu pelo terceiro trimeste consecutivo. Para os mercados, isso é um prenúncio de uma possível crise. Outro indício que percebemos é que os bancos norte-americanos também não estão facilitando o crédito, estão com certa resistência de fazer novos empréstimos. Isso realmente acaba afetando os países emergentes, cujo risco é maior", alertou o especialista.
Para Silva, o cenário interno ainda está "relativamente favorável" ao desempenho do Ibovespa e do dólar, devido aos juros mais baixos e ao controle da inflação. Porém, ele acredita que pode haver uma questão psicológica do mercado em relação a reforma da previdência. "Mediante uma aversão ao risco com o mercado internacional e uma guerra comercial entre EUA e China, agora temos que digerir também o possível impeachment de Donald Trump (presidente dos EUA), somado a essa desidratação da reforma da Previdência", constatou o economista. "É claro que estamos particularmente cautelosos."
*Estagiárias sob supervisão de Humberto Rezende