A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE divulgada ontem, revela que os brasileiros estão gastando mais com pagamento de impostos e de dívidas e, portanto, acumulam menos patrimônio. Segundo os dados do IBGE, 3,2% dos rendimentos familiares foram destinados ao abatimento de dívidas entre 2017 e 2018, enquanto entre 2008 e 2009, segundo dados da pesquisa anterior, foram destinados 2,1% da renda para essa finalidade.
O levantamento também mostra que apenas 4,1% da renda familiar foram dirigidos ao aumento de ativos, ou seja, as despesas com aquisição de imóveis, construção, melhoramento de imóveis próprios e investimentos financeiros. Já os dados coletados entre 2008-2009 revelaram que 5,8% do orçamento familiar mensal foi destinado a investimentos.
Newton Marques, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), explica que, com a desaceleração econômica, a recuperação da renda média das famílias tem sido menor nos últimos anos. Por isso, os brasileiros precisaram elencar as prioridades. Segundo a pesquisa, mesmo crescendo, os gastos com impostos e dívidas ainda são inferiores do que aqueles com alimentação, transportes e habitação. Para Marques, esse quadro só poderia ser invertido em um contexto de crescimento da economia.
Para o economista Riezo Almeida, é preciso levar em conta o aumento dos impostos e das dívidas nos últimos 10 anos. ;Em relação à renda das famílias, os valores de dívidas e impostos estão muito maior agora do que nos anos anteriores. Além disso, como os salários da população também diminuíram com a crise, mais dívidas foram criadas, e as pessoas tiveram mais dificuldade em pagar os impostos federais;, explica.
O vendedor Veríssimo Carvalho, 37, disse que compromete toda a renda com pagamento de contas mensais e parcelas do empréstimo. ;Precisei pegar dinheiro emprestado do banco para poder pagar outras contas maiores, como cheque especial. Mesmo fazendo acordo, ainda não consegui quitar a dívida;, contou. ;Meu salário vai todo para os boletos, aluguel e para alimentação. Não sobra nem para investir no futuro, nem para curtir algum lazer;, disse.
As despesas dos brasileiros com tarifas bancárias aumentaram mais de 150% nos últimos 10 anos, segundo a pesquisa. Em 2018, esse custo consumia 1% da renda das famílias, ante os 0,4% do levantamento anterior. Nesse intervalo, o número de cartões de crédito ativos no sistema financeiro cresceu 34%. A expansão também ocorreu no uso de cartões de débito, com avanço de 67%. Para alguns especialistas, esses movimentos representam uma mostra do crescimento da chamada ;bancarização;.
Para Marcelo Neri, economista e diretor do FGV social, as pessoas estão gastando mais com despesas bancárias por se tratar de uma despesa sobre a qual as pessoas pouco se dão conta. ;Essas tarifas fazem parte de uma conta invisível que você não nota e, como são poucos bancos, a pessoa acaba não tendo para onde correr. Nesse período, os juros sempre foram muito altos também;, avaliou o economista.
;O Banco Central não toma atitudes em relação aos abusos que os bancos cometem. Uma elevação dessa, de 150%, teria que ter um fato econômico que justifique;, ponderou o economista Newton Marques. ;As pessoas estão endividadas e os bancos se aproveitam desse endividamento;, disse.
Elenice Alecastro, de 65 anos, recém aposentada, reclama da elevada tarifa bancária que paga por serviços que, segundo ela, deveriam ser gratuitos. ;Quando a gente aposenta, o dinheiro diminui, então, estou em uma fase de readaptação. O que eu pago de tarifas poderia ser gasto com outras coisas, como educação para uma nova profissão;.
* Estagiárias sob supervisão de Cláudia Dianni