Jornal Correio Braziliense

Economia

Sobra menos para o lazer



O servidor público Gabriel Breda, de 30 anos, lamenta o fato de destinar a maior parte da renda mensal para fazer frente a despesas básicas. A consequência, afirma, é que não sobram recursos suficientes para lazer com a família. Ele conta que diversão é o primeiro item da lista de cortes e acaba sendo considerado ;supérfluo;.

Com esposa e filho dependentes, ele conta que precisou se desfazer de um dos dois carros por causa dos altos preços nos combustíveis. Para ele, porém, os gastos com alimentação têm ainda mais impacto no orçamento. ;Alimentação, hoje em dia, é com o que eu mais gasto. Consome de 30% a 40% da renda familiar, todo mês;, contou. ;Em média, eu gasto cerca de R$ 2 mil só com alimentação. Mas, de janeiro para cá, os alimentos aumentaram muito. Você vai ao mercado uma semana e faz uma compra de um valor e, na semana seguinte, já tem um acréscimo;, reclamou Gabriel.

Ele também reclama das altas tarifas bancárias e explica que, na área em que trabalha, precisa efetuar transferências bancárias e as tarifas acabam constituindo um custo a mais. ;Por isso, passei a ter não só um banco, mas três, para não ter que pagar essas tarifas e só fazer as transferências, que comprometem muito minha renda;, disse.

Ele estima que, apenas com as despesas obrigatórias, como escola, alimentação, transporte, e as contas básicas, chega a gastar mais de R$ 5 mil no mês. ;Em média, minha renda familiar mensal é de uns R$ 7 mil. Então, essas despesas comprometem nossa renda bastante, mas, felizmente, nossa situação não é tão drástica;, conclui Gabriel.

Já Lucia Cabral, de 52 anos, recebe uma renda mensal inferior a dois salários mínimos. Desempregada e com três filhos, ela conta que gasta cerca de 75% do salário apenas com alimentação para a família. ;No momento, quem está mantendo a casa é o meu marido. A gente só tem comprado alimento para comer em casa, porque já é caro comer lá, imagina fora. Os preços poderiam baixar mais. Poucas vezes, eu e a minha família conseguimos ir a restaurantes;, lamentou. ;Compramos mais carne, arroz e verdura porque é o que alimenta e cabe no bolso. Tudo, nesse país, pagamos muito caro. Até a comida.;

;Como a maioria das famílias está endividada, não há margem para pagar o endividamento e ainda fazer o consumo normal do básico, como transporte e alimentação, que é o que chamamos de bens normais;, explica o coordenador do curso de Ciências Econômicas do IESB, Riezo Almeida. Para ele, uma melhor gestão dos recursos familiares poderia ajudar as famílias. Ele ressalta que, mesmo com aumentos generalizados dos preços sobre alimentos e combustíveis, entre outras formas de transportes, a população não tem como deixar de gastar com esses itens. ;Além disso, com a crise que vem acontecendo no país há anos, o salário das famílias diminuiu relativamente. Muitos foram demitidos e, quando conseguiram outro emprego, a renda veio menor. Portanto, esses bens ficaram mais caros para essas pessoas;.