O mercado de juros encontrou um pouco mais de espaço para alívio de prêmios nesta quinta-feira, em meio ao Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e à repercussão positiva da promulgação de parte da proposta de emenda à Constituição que permitirá ao governo a realização do megaleilão do pré-sal. O relatório, juntamente com as entrevistas do presidente Roberto Campos Neto e do diretor de Política Econômica, Carlos Viana, mesmo não trazendo grandes novidades em relação à mensagem da ata do Copom, deu conforto para o mercado voltar a reforçar apostas na Selic abaixo de 5% no fim do ciclo. Nesse contexto, os juros fecharam com ligeira queda, ainda que o câmbio tenha passado a tarde levemente pressionado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que melhor capta as apostas para a Selic ao longo de 2019, fechou na mínima de 5,08%, de 5,09% na quarta no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 voltou a fechar abaixo de 5%, em 4,98%, de 5,009% no ajuste. O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 6,09%, ante 6,121% no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 6,69%, de 6,731%.
As preocupações com o exterior e o andamento da reforma da Previdência estiveram de lado, com o mercado voltando a se concentrar na política monetária. "O RTI e as declarações não trouxeram novidades em relação ao que o mercado já tinha, mas elevaram a confiança sobre o espaço para redução maior dos juros. O BC parece tranquilo com o nível de 5% e poderia ir até abaixo", disse o trader da Quantitas Asset, Matheus Gallina, segundo o qual a curva projetava nesta quinta taxa básica de 4,75% no encerramento de 2019. Para o Copom de outubro, vai se consolidando a ideia de nova redução de 0,5 ponto porcentual da atual taxa de 5,5%. Segundo precificação divulgada pela a Quantitas, as chances de um corte desta magnitude avançaram de 68% na quarta para 78%.
"Infere-se no cenário com a Selic da Focus (5,0%) e o câmbio constante (R$ 4,05) que há um conforto para o BC com a Selic em 5,0%. Acredito que pode ir abaixo de 5,0%, porque a inflação corrente está muito tranquila e a recuperação da atividade segue bastante gradual", disse a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, que vê Selic a 4,50% no fim do ciclo.
Já a sinalização do BC é de que não há estresse com o câmbio no atual contexto. Carlos Viana, na entrevista, pontuou que com o hiato de produto nos níveis de hoje, "a transmissão do câmbio para inflação fica mitigada". Foi sua última coletiva do RTI, pois permanecerá nos quadros do BC somente até segunda-feira (30).
Na ótica do mercado, se a agenda econômica avançar haverá entrada de fluxo externo, o que limitaria a pressão sobre o real. Nesse sentido, foi bem recebida a promulgação de parte da PEC da cessão onerosa no Congresso, que permitirá a realização do megaleilão do pré-sal marcado para novembro. A outra parte, que trata da divisão do bônus de assinatura com Estados e municípios, continuará em tramitação na Câmara. É uma boa notícia também pelo lado fiscal, uma vez que pelo texto R$ 106,5 bilhões podem ser arrecadados.