Os juros nesta quarta-feira voltaram a fechar em queda, após dois dias em alta quando o mercado realizava lucros a partir do aumento das incertezas com o cenário político local e avanço do dólar. À tarde, quando a moeda americana passou a cair ante o real, houve alívio nos prêmios de risco na curva e as taxas retomaram o rumo de baixa. Na medida em que o dólar vai se afastando dos R$ 4,20, a percepção de que a Selic pode cair abaixo de 5%, que esteve meio estremecida nos últimos dias, volta a se fortalecer. A recuperação do apetite ao risco no exterior e o dado do Caged acima da mediana das estimativas do mercado também estimularam ordens de venda.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou a 5,01%, de 5,029% terça no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 6,151% para 6,12%, perto da mínima de 6,11%. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 6,73% (mínima de 6,472%), de 6,791%. O dólar fechou cotado em R$ 4,1547 (-0,35%).
Os juros oscilavam em torno dos ajustes pela manhã, dado o dólar em alta e alguma cautela com o cenário político local após o adiamento da votação da reforma da Previdência para a próxima semana e, lá fora, a abertura de um processo de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No fim da primeira etapa, a fala de Trump de que um acordo comercial com a China poderia acontecer "mais cedo do que se pensa" começou a trazer alívio aos mercados, que passaram também a relativizar os riscos de afastamento de Trump.
No Brasil, com o dólar se afastando da temida marca de R$ 4,20 à tarde, o mercado aproveitou para buscar os prêmios adicionados na curva nas últimas sessões. O recuo do dólar por sua vez teve como catalisador os números do Caged. A geração líquida de 121.387 empregos com carteira assinada em agosto ficou muito acima da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 98.881 postos. Em tese, o Caged mais forte deveria inibir o fechamento da curva por indicar menor espaço para a queda da Selic, mas a economia se encontra tão fraca que não se vê risco inflacionário vindo desta seara.
"Teoricamente, se a economia está melhor e mais aquecida do que parece não deveriam estar vendendo DI nesses níveis", disse o sócio-gestor da Laic-HFM, Vitor Carvalho. Porém, se de um lado, isso não deve ser suficiente para pressionar a inflação em função da grande ociosidade dos fatores de produção, de outro, deve atrair fluxo de capital. "Aí derruba câmbio e o BC pode cortar a Selic", afirmou Carvalho, que vê um certo exagero no otimismo dos investidores. "É o cenário 'goldilocks', com tudo dando certo", disse.