De acordo com Gonçalves, na manhã de terça trabalhadores e policiais militares se desentenderam na porta da fábrica da empresa e houve uso de gás de pimenta.
Ele afirmou que, nesta quarta, uma assembleia foi realizada com os trabalhadores antes do expediente e a categoria havia decidido manter a paralisação.
Os trabalhadores recuaram, porém, ao serem abordados pela Polícia Militar. "Os trabalhadores estavam de boa no seu canto, porém o chefe foi lá junto com a Tropa de Choque e chamou a turma pra entrar", afirma o presidente do SindMetal. "O aparato do Estado na porta da fábrica, a mando da Embraer e da Boeing, foi algo impressionante. Até dirigentes sindicais mais antigos, de 30 e 40 anos, ficaram assustados. Nem na ditadura militar a gente tinha visto uma aparato militar da forma que a gente viu", diz.
Segundo Gonçalves, um sindicalista foi preso na porta da empresa na manhã desta quarta.
A Polícia Militar de São Paulo confirmou a prisão em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo e informou que o motivo foi desobediência e resistência. A ocorrência foi registrada na Delegacia da Polícia Federal de São José dos Campos.
A corporação alega que foi acionada por funcionários da empresa que relataram que queriam trabalhar, mas estavam com a entrada impedida por sindicalistas que bloqueavam a portaria.
A PM informou que "realizou contato a fim de mediar essa condição". "Buscando a preservação dos direitos de ambas as partes, iniciou-se a negociação com os manifestantes, porém, não alcançando êxito foi necessária a intervenção policial para preservação da ordem pública", afirmou a PM na nota.
Questionada de forma específica sobre o confronto com a polícia, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que representa a Embraer na negociação sindical, não comentou o assunto e afirmou por meio de nota que "o processo negocial encontra-se em andamento".
Greve da Embraer
Antes da paralisação, os funcionários da Embraer ficaram uma semana em estado de greve. A categoria rejeita a proposta da empresa, que propôs apenas a recomposição inflacionária de 3,28%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado do período. Os trabalhadores reivindicam, além da recomposição da inflação, ganho real de 3%.
Outro ponto de impasse foi desencadeado pelo acordo comercial entre Embraer e Boeing. Os trabalhadores temem que a empresa brasileira passe a terceirizar a produção de aeronaves, como faz a Boeing. De acordo com a categoria, peças produzidas pelas próprias companhias passam por um maior controle de qualidade.
Segundo Weller Gonçalvez, a terceirização de produção pode ocasionar episódios como o do Boeing 737 MAX, que teve a produção suspensa após dois acidentes fatais na Indonésia e na Etiópia.