Nos últimos anos, houve um grande crescimento de iniciativas digitais do governo federal brasileiro. O Ministério da Economia (Secretaria de Governo Digital) atua como órgão central de alguns sistemas estruturantes, como o SISP, que cuida da governança de TI da administração pública do país. Descartando a adoção de uma infraestrutura física, cujo ciclo de vida e custos eram incompatíveis com as necessidades do ministério, o órgão optou pela nuvem pública quando precisava aumentar a agilidade.
O primeiro sistema desenvolvido pelo então Ministério do Planejamento, com o Amazon Web Services, foi para combater o Aedes Aegypti, em um momento em que o governo federal precisava responder rapidamente à ameaça de uma epidemia do vírus Zika, uma doença transmitida por mosquitos. A tecnologia ajudou a engajar agentes públicos na campanha nacional, por meio de um aplicativo desenvolvido com a consultoria OutSystem Brasil. A primeira versão da plataforma foi criada em apenas 24 horas, até atingir gradualmente 406 agências federais.
Outro exemplo é o INPE, que está rastreando o perfil da floresta amazônica obtido a partir dos dados do LiDAR com AWS. Para extrapolar a biomassa coletada de toda a Amazônia, foram utilizados dados de satélites de vários tipos, como RADAR, spectrum visível e infravermelho. Cerca de 500 milhões de registros de dados foram processados na geração do mapa. O esforço computacional seria muito maior do que a capacidade de processamento do servidor adquirido para o projeto, então, a equipe optou por utilizar a nuvem AWS.
Este ano, o governo publicou a Instrução Normativa n; 1/2019, com diretrizes que priorizam o uso da nuvem, em vez de investimentos em data centers. Como essa diretriz afeta a oferta desse serviço no Brasil?
No Brasil, há um entendimento crescente de que, ao investir em computação em nuvem, empresas e governos podem se beneficiar de um menor custo de TI, com mais segurança e rapidez na implementação, além de maior poder de processamento e escalabilidade.
Os governos podem se beneficiar da computação em nuvem de várias maneiras, do gerenciamento de dados às funcionalidades da Smart City - com ferramentas Open Data e Internet das Coisas. A AWS ajuda a tornar esses dados abertos e disponíveis para o público descobrir, acessar e usar. A IoT está sendo usada para áreas importantes para todos nós: água, transporte, segurança pública, serviços da cidade, infraestrutura inteligente e serviços de saúde, por exemplo.
O Brasil figura entre os países que estão se preparando para a transformação digital. Além do nível federal, estamos vendo as coisas acontecerem também no nível estadual. Isso faz sentido pela demanda dos cidadãos, porque eles acreditam em sua própria legislação e orçamento. O Brasil dá passos importantes em direção à adoção da computação em nuvem.
Quais são as oportunidades, obstáculos e desafios no mercado brasileiro?
O Brasil me inspira. Toda vez que saio, fico animado com o potencial aqui. Os governos devem agir rapidamente e buscar inspiração no ecossistema de startups. Os governos parecem sólidos, pesados, lentos. É por isso que gosto de levar a mentalidade de startups aos representantes do Setor Público. A prudência em si é justificada, mas não pode imobilizar o setor. Com a tecnologia, o governo pode ter a agilidade de uma startup e, ao mesmo tempo, tornar suas operações mais seguras.
As startups são mais abertas a essa tecnologia do que as empresas tradicionais?
Muitos dos aplicativos de consumo que se tornaram nomes familiares nos últimos anos poderiam não ter se tornado tão difundidos sem a nuvem. Startups como Airbnb, Instacart, Lyft, Nextdoor e Slack puderam lançar suas novas idéias rapidamente, sem ter que garantir uma tonelada de capital primeiro para depois escalar globalmente com base na demanda do consumidor a uma velocidade que não seria possível se eles tivessem que construir seus próprios data centers. Isso significa que os empreendedores puderam focar toda a sua engenharia e inteligência em coisas que os consumidores amam: o aplicativo.
Todos os setores estão sendo reinventados por empresas que estão aproveitando as tendências e mudanças tecnológicas, como a nuvem. As startups estão criando disrupturas, indústrias consolidadas e inventando novas. E as empresas começaram a descobrir a mesma coisa. Muitos dos nossos clientes corporativos estão adotando a mudança e usando a nuvem para transformar seus negócios.
As startups de tecnologia educacional, as chamadas EdTechs, são um ótimo exemplo. Startups como a Passei Direto, ou Descomplica, são empresas brasileiras que estão mudando a educação a distância, usando a tecnologia em nuvem para apoiar suas operações e impulsionar seus negócios. Mas também vemos o uso da computação em nuvem em grandes instituições de ensino, como o Grupo Kroton, que utiliza serviços da AWS em sua plataforma de educação a distância, usada milhares de estudantes no Brasil.
O que as plataformas estão fazendo para garantir a segurança de pessoas, governos e empresas após a experiência de vazamentos, como casos que ficaram mundialmente famosos, como a Cambridge Analytica envolvendo o Facebook, a vaza jato, envolvendo o Telegram?
Regulamentos como o GDPR (lei de proteção de dados), na Europa, e a Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil estão chegando para orientar o que as empresas devem fazer. Na AWS, temos um modelo de responsabilidade compartilhada com o cliente. A AWS gerencia e controla os componentes do sistema operacional, da camada de virtualização até a segurança física das instalações em que os serviços operam, e os clientes da AWS são responsáveis por criar aplicativos seguros.
Fornecemos uma ampla variedade de documentos de práticas recomendadas, ferramentas de criptografia e outras orientações que nossos clientes podem aproveitar para fornecer medidas de segurança no nível do aplicativo. Além disso, os parceiros da AWS oferecem centenas de ferramentas e recursos para ajudar os clientes a atingir seus objetivos, desde segurança de rede, gerenciamento de configuração, controle de acesso e criptografia de dados.
É possível educar pessoas, empresas e governos? Com que tipo de treinamento?
A Amazon investe no Brasil há oito anos. Estamos em mais de 100 universidades, ajudando professores a ensinar e divulgar a importância das melhores práticas de segurança cibernética. A AWS tem uma iniciativa global chamada AWS Educate que fornece aos alunos e professores os recursos necessários para acelerar o aprendizado relacionado à nuvem. No Brasil, o AWS Educate inclui instituições como o SENAI, USP, Unicamp, Mackenzie, UFRJ e Kroton. No final de 2018, a cidade de Araraquara e seis instituições educacionais da cidade aderiram ao programa para treinar mil alunos com conhecimentos e habilidades em computação em nuvem. Dessa forma, a cidade se tornou um centro, onde a AWS está disponibilizando créditos para o desenvolvimento de projetos de tecnologia em nuvem pelos estudantes. Somente neste ano, anunciamos mais dois projetos de colaboração como este: com a cidade de Santos, uma parceria em um novo parque tecnológico, e com o SENAI um contrato para ajudar a treinar 2 milhões de estudantes.
Além disso, temos o AWS Academy, que é dividido em um curso de introdução à nuvem, que fornece uma visão geral dos conceitos de nuvem, e um curso focado no conhecimento técnico em computação em nuvem e nas habilidades necessárias para o trabalho; o AWS Cloud Credits for Research, um programa que oferece suporte a pesquisadores científicos; e AWS EdStart, um programa global de aceleração para startups focadas em tecnologia educacional, criado para ajudar empreendedores a desenvolver a próxima geração de soluções de aprendizado on-line, análise de dados e soluções de gerenciamento de campus através do serviço de computação em nuvem da AWS
Qual o objetivo do AWS Initiate, que reuniu governo, ONGs e instituições de ensino em Brasília, na semana passada, para discutir o tema?
Há algum tempo, os ministérios conhecem certas possibilidades, mas não as exploram, mas muitas vezes não sabem o que fazer com isso. Então, o objetivo do AWS Initiate Day Brasília é responder perguntas sobre computação em nuvem. Queremos ensinar, sem nenhum custo, como tirar proveito das novas tecnologias.
É a primeira vez que AWS Initiate Day ocorre em Brasília. Trata-se um um evento focado em ajudar organizações do setor público a aprender mais e preparar suas equipes em suas jornadas para uma transformação digital através dos benefícios dos serviços de computação em nuvem. É uma oportunidade para que os líderes aprendam com aqueles que já mudaram para a nuvem, como o TCU e o ONS, e entender a cultura de inovação da Amazon, como eles podem trabalhar com a computação em nuvem em seus projetos de transformação digital e como para migrar pacotes de dados para a nuvem.