A expectativa de que a taxa Selic siga em trajetória cadente e encerre o ano abaixo de 5%, desencadeada pelo comunicado do Copom quarta à noite, embalou os negócios no mercado acionário nesta quinta-feira. Após certa euforia pela manhã, quando tocou momentaneamente os 106 mil pontos, o Ibovespa perdeu fôlego ao longo da tarde e - com uma piora acentuada na reta final do pregão - fechou em queda, abaixo dos 105 mil pontos.
Operadores atribuíram a degringolada do índice no fim do dia à virada das bolsas americanas para o terreno negativo, em meio às preocupações com a guerra comercial sino-americana, e a um forte movimento de realização de lucros dos papéis dos bancos. Após registrar máxima de 106.001,35 pontos na primeira etapa de negócios, aproximando-se do recorde histórico intraday (106.659 pontos, em 10 de julho), o Ibovespa fechou em queda de 0,18%, aos 104.339,16 pontos.
"O Ibovespa encontra dificuldades para romper os 105 mil pontos. Sempre que chega nesse patamar, o índice retorna", diz Thiago Salomão, analista de Investimentos da Rico, ressaltando que a queda das ações dos bancos, que têm peso preponderante na carteira teórica, acabou ofuscando a alta dos papéis mais ligados à atividade doméstica. "Os bancos até abriram em alta, então o efeito da queda à tarde sobre o índice foi maior. O setor financeiro tinha subido bastante recentemente, e, com esse juro mais baixo, parece que há uma migração para outros setores."
Quarta à noite, o Copom cortou a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 5,50% ao ano, como esperado pelo mercado. Houve surpresa com as projeções de inflação benignas e a sinalização clara de que há mais espaço para novas reduções dos juros. Pesquisa relâmpago do Projeções Broadcast mostra que a maioria do mercado passou a trabalhar com taxa Selic entre 4,5% e 4,75% no fim do atual ciclo de afrouxamento monetário.
Não por caso, as estrelas do dia na bolsa foram os setores de consumo e construção civil, cujos resultados estão mais ligados à expansão do crédito e ao ritmo de atividade. Entre os índices setoriais da B3, o Índice Imobiliário subiu 2,40%, e o Índice de Consumo, 0,89%. Na contramão, o Índice Financeiro fechou em queda de 1,09%.
Sócio e gestor de renda variável da RJI Gestão & Investimentos, Rafael Weber observa que a piora do Ibovespa não pode ser atribuída ao ambiente externo, já que não houve deterioração tão aguda das bolsas americanas. Weber atribui a falta de força do índice para se sustentar acima dos 105 mil pontos à ausência de sinais mais claro de recuperação da atividade econômica.
"O mercado já precificou a questão da reforma da Previdência e os juros menores, o que sustenta o Ibovespa no nível atual. Para o índice buscar os 115 mil, 120 mil, ou até mesmo uma nível menor, de 110 mil, os números da atividade precisam melhorar", afirma o gestor da RJI, ressaltando que os investidores se mostram receosos, após as sucessivas frustrações das estimativas de crescimento. "A possibilidade de juros bem menores deveria ter trazido mais otimismo, mas ninguém quer se adiantar e comprar antes de ver os resultados na economia."