A economia brasileira suspirou, com tímida alta de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano, e surpreendeu o mercado ao afastar o risco de recessão técnica, configurada por dois períodos seguidos de queda. O desempenho positivo foi puxado pelo aumento dos investimentos, de 3,2%, pela reação da indústria (0,7%), sobretudo da construção civil, com expansão de 1,9% após 20 trimestres consecutivos de queda, e pelo consumo das famílias (0,3%).
O dado, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio em linha com as expectativas do governo, garantiu o secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. ;Estávamos prevendo exatamente 0,4%;, afirmou. A mediana dos analistas de mercado, no entanto, estava em 0,2% de alta e, entre os mais pessimistas, havia previsão de novo recuo do PIB.
Sachsida reconheceu que existe um efeito estatístico sobre bases baixas, tanto na margem (ante o trimestre anterior) quanto em relação ao mesmo período de 2018, comparação na qual a alta do PIB foi de 1%. ;A base é fraca, mas não muda o fato de que o cenário está mais favorável;, disse. O chefe da SPE lembrou que os gastos do governo encolheram 1%, entre abril e junho deste ano. A atual previsão do governo para o PIB de 2019 é de alta de 0,8%, abaixo do crescimento de 1,1% registrado em 2018.
Pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro comemorou: ;PIB brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019, o dobro do previsto pelos jornais/especialistas e o melhor resultado em seis anos para o período;, escreveu. ;Estamos no caminho certo;, completou.
Peso
Conforme Claudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, os segmentos de transformação, com alta de 2%, e de construção civil, com crescimento de 1,9%, têm peso de 70% na atividade industrial. ;Ambos tiveram bons resultados, mas foram neutralizadas pelo desempenho negativo do extrativista, que recuou 3,8%, ainda sob efeito do desastre de Brumadinho e queda na produção de minério de ferro da Vale;, avaliou.
Para José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), apesar dessa neutralização, a interrupção de 20 quedas seguidas deve ser celebrada. ;Sempre disse que o Brasil não ia crescer se a construção civil não reagisse. Nossa locomotiva começou a andar, puxada pelos mercados imobiliários do Centro-Oeste e do Sudeste (exceto o Rio);, explicou. Nas regiões Nordeste e Norte, houve queda e, no Sul, estabilidade, segundo ele. ;A reação em apenas duas regiões já surtiu efeito significativo no PIB. Além disso, na alta dos serviços (0,3%), a atividade imobiliária (0,7%) teve forte influência;, destacou.
Na indústria de transformação, sustentou Martins, o maior impacto foi no segmento de bens de capital. ;Isso também tem a ver com investimento e construção;, acrescentou. O setor ainda está longe de se recuperar dos 20 trimestres seguidos de queda: encolheu 27,5% desde 2014. Dos 3,3 milhões de empregos que garantia naquele ano, a construção tem hoje 2 milhões de trabalhadores. ;É preciso crescer 60% para recuperar o patamar;, afirmou o presidente da Cbic. No último dado oficial de emprego, o segmento abriu 18 mil postos de trabalho.
Adeus à lanterna
Ao registrar alta de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) na comparação anual, o Brasil deixou a lanterna do crescimento econômico global, ganhando nove posições. Conforme a Austin Rating, o país ficou em 36; lugar em uma lista de 42 economias. No primeiro trimestre, o PIB brasileiro foi o 45; pior entre 47 nações. ;Nas próximas medições, o Brasil pode melhorar sua posição no ranking se mantiver esse ritmo de recuperação;, destacou o economista-chefe da Austin, Alex Agostini. Ele prevê alta de 0,6% no PIB no terceiro trimestre.
Agostini lembrou que houve aumento das importações de máquinas e equipamentos. ;Isso mostra que a indústria começou a reagir, mas não muda a dinâmica para o ano. Nossa previsão está mantida em crescimento de 1%;, assinalou. O economista, que esperava retração de 0,3% no PIB trimestral, disse que, com o afastamento do risco de recessão, o Banco Central poderá dar continuidade no ciclo de corte da taxa básica de juros (Selic), atualmente, em 6% ao ano.
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o PIB surpreendeu ao avançar 0,4% no trimestre. ;Destaque para o robusto crescimento dos investimentos, que subiram no trimestre 3,2%. É uma surpresa extremamente positiva e forçará revisões em nossas projeções;, afirmou. Para Pablo Spyer, economista-chefe da Mirae Asset, a notícia foi positiva para o mercado. ;Todos estávamos muito nervosos com a possibilidade do Brasil entrar em recessão técnica, mas isso não ocorreu;, declarou.
O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, alertou que o consumo das famílias, com alta de 0,3%, foi decisivo para a reação da economia. ;A CNC projeta avanço de 0,9% do PIB em 2019 a partir dos impactos de medidas de estímulo ao consumo;, assinalou. ;O comércio segue sua lenta recuperação, avançando acima da média pelo segundo trimestre seguido (0,7%). Mas o nível de atividade ainda está 8,9% abaixo do período pré-crise;, acrescentou.