Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o aumento da tensão externa pode afetar o Brasil em 0,2 ponto percentual, mas o PIB do segundo trimestre ainda não deve refletir essa piora no cenário internacional. ;O PIB do segundo semestre pode ser afetado pela piora adicional na Argentina e no mundo, e a nossa projeção de 0,9% pode vir pior do que isso;, disse ele, que pretende revisar a estimativa para 0,7%. ;O maior problema é para 2020 com o cenário internacional em crise mais profunda. Devemos revisar o PIB do ano que vem de 2% para 1,5% quando for divulgado o resultado na quinta-feira;, antecipou.
As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o mundo está crescendo menos, assim como as economias em desenvolvimento neste ano. A Índia com sua explosão populacional segue na contramão do mundo e deverá continuar crescendo até mais do que a China. O país asiático apresentou a menor evolução do PIB desde 1992, ao crescer 6,2% no primeiro trimestre.
Nesta quinta-feira (29/8), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o PIB nacional do segundo trimestre. Há expectativa no mercado de crescimento de no máximo 0,4% ou até mesmo negativo em até 0,3%. Se isso acontecer, o país entrará em recessão técnica, pois o PIB encolheu 0,2% no primeiro trimestre do ano. A estimativa do FMI para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano está em linha com a do governo e a do mercado, de 0,8%. Esse dado, no entanto, é 1,3 ponto percentual inferior ao que o Fundo esperava em abril: 2,1%.
A certeza entre analistas é de que o país terá um grande desafio pela frente: voltar a crescer com o mundo desacelerando. Segundo Luka Barbosa, economista sênior do Itaú Unibanco, a relação entre o crescimento do Brasil com o mundo é de 1x1, ou seja, ;se o mundo deixar de crescer um ponto percentual, o PIB nacional desacelera um ponto percentual;. Logo, o enfraquecimento da atividade nos Estados Unidos e na China afeta os emergentes, e, em especial, o Brasil, que tem nessas duas economias os maiores parceiros comerciais. ;O crescimento da China determina o preço das commodities no mundo, e isso afeta o Brasil diretamente, inclusive, os investimentos. Como o mundo está desacelerando com essa nova guerra comercial, isso dificulta o crescimento da economia brasileira;, afirmou.
A desaceleração chinesa afeta as exportações nacionais, que recuaram 1,25% no acumulado de janeiro a julho, conforme dados do Ministério da Economia. ;Antigamente, a gente ouvia falar em recessão global, mas, só agora, conseguimos enxergar que está chegando. Mas não conseguimos prever qual a dimensão ainda;, disse o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, reforçou que ;problemas domésticos; também empacam a economia brasileira. ;Com o baixo número de investimento e o consumo das famílias crescendo pouco, além do alto número de desempregados e da queda no nível de renda, a tendência é de que haja uma retração do PIB em relação ao primeiro trimestre;, analisou. Agostini está entre os mais pessimistas e espera queda de 0,3% no PIB do segundo trimestre, mas acredita que o resultado, independentemente de ser positivo ou negativo, não será um susto para o governo.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira
Mais fraco
Veja como o PIB de algumas economias em desenvolvimento devem desacelerar neste ano, acompanhando a economia globalVariação do PIB (em %)
País ; 2018 ; 2019*
Argentina ; -2,5 ; -1,2
Brasil ; 1,1 ; 0,8
Chile ; 4,0 ; 3,4
China ; 6,6 ; 6,2
Índia ; 6,8 ; 7,0
México ; 2,0 ; 0,9
Paraguai ; 3,7 ; 3,5
Peru ; 4,0 ; 3,9
Uruguai ; 2,1 ; 1,9
Venezuela ; -18,0 ; -25,0
Mundo ; 3,6 ; 3,2
Emergentes ; 4,5 ; 4,1
Ásia emergente ; 6 ; 6,2
*Projeção
Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI)