A Cielo, controlada por Bradesco e Banco do Brasil, anuncia nesta segunda-feira, 26, o lançamento do Cielo Pay, um "super aplicativo" (app) que reúne diversas funcionalidades no setor de pagamentos para o disputado público de pequenos empreendedores e o ecossistema ao redor, incluindo, os consumidores. Com esse movimento, a líder do setor de maquininhas caminha na direção de ter o seu próprio banco, em linha com seus concorrentes apesar de ter dois grandes bancos como acionistas.
Do lado dos empreendedores, o super app da Cielo permitirá serviços como a abertura de uma conta digital 100% gratuita, pagamento imediato das transações com cartões, transferências de recursos para quaisquer bancos a partir de sua rede de contatos, pagamentos via QR Code (quadradinhos) ou boleto, carteira digital (wallet), saque na Rede Banco24 horas e ainda oferta de crédito, que será integrada mais adiante. Os profissionais ainda terão acesso a serviços de assistência, como eletricista e encanador, dentre outros, de cartões pré-pagos e ainda uma central de atendimento por meio do WhatsApp. Sob a ótica de custos, a Cielo vai cobrar por saques (R$ 7,50) e transferências (TED) - R$ 5,00, mas a conta, em si, será totalmente gratuita.
Já para os consumidores, com os quais a empresa busca um "relacionamento diário", serão ofertadas as possibilidades de uma conta com remuneração dos recursos de 100% do CDI, pagamentos de conta e cartão para saques. O novo app da Cielo estará disponível a partir do dia 14 de outubro, mas essa semana começa a ser testado por 3 mil funcionários da companhia.
Com a iniciativa, a companhia almeja, segundo o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, se posicionar ainda mais fortemente junto aos empreendedores. "Começamos a atuar nesse mercado, de empreendedores, que não atuávamos no passado. Em setembro, vamos comemorar a venda de 1 milhão de máquinas. Entramos de forma bastante agressiva junto aos empreendedores e assim vamos continuar", disse Caffarelli, em coletiva de imprensa, em São Paulo, nesta manhã.
Sobre a meta da Cielo com o super app, o executivo não quis revelar. Afirmou que é estratégico, mas quer ir além do contingente que atraiu com o lançamento de contas digitais, feito no início desse ano e que até agora soma 100 mil clientes. "Não estávamos fazendo divulgação. Agora, essa estratégia será reforçada", explicou o presidente da Cielo.
Segundo ele, o super app será uma plataforma aberta, ou seja, estará disponível a desenvolvedores, pois o foco é trazer mais soluções e conveniência aos empreendedores. "Já tínhamos uma atuação forte em grandes contas e empreendedor de maior porte. Em empreendedores, isso começa agora", reforçou o executivo. "A relação não pode terminar na maquininha", acrescentou.
Na última divulgação de resultados, a Cielo já havia anunciado um projeto piloto para conceder linhas de financiamento para seus clientes com base no fluxo de recebíveis, o chamado crédito fumaça. O potencial, conforme a companhia, é de uma carteira de R$ 1 bilhão em 12 meses. Sobre o montante liberado até então, Caffarelli disse que está "dentro das expectativas" da companhia, mas não abriu o montante.
Quando anunciou a oferta de crédito, o presidente da Cielo havia afirmado que ter um banco próprio era uma "coisa para o futuro". Nesta segunda-feira, questionado, voltou a falar que o lançamento visa a se posicionar frente ao incremento da concorrência e que a companhia está de acordo com a licença que já possui junto ao Banco Central.
O lançamento desta segunda-feira, porém, sinaliza que a estratégia da Cielo de ter um banco pode estar mais próxima do que a líder do setor sinaliza em linha com os concorrentes do setor. Recentemente, a PagSeguro, do Uol, lançou o PagBank, que ao fim de junho somava 1,4 milhão de clientes.
Analistas do setor de meios de pagamentos questionam, contudo, se a Cielo conseguirá ter a escala necessária para decolar um banco próprio, considerando o fato de ter o BB e o Bradesco como sócios controladores, o que dificultaria a estratégia em relação aos seus rivais. "A Cielo tem outro complicador para se tornar um banco: seus controladores", diz um deles, na condição de anonimato.
A Cielo tem passado por uma forte reestruturação na gestão de Caffarelli para fazer frente à arena que se transformou o setor de maquininhas. Desde que o executivo assumiu o comando da empresa, em novembro do ano passado, a companhia abandonou a estratégia de rentabilidade e passou a focar o aumento do market share. Nesse sentido, baixou preços e começou a ser mais agressiva no mercado, principalmente, junto aos pequenos empreendedores, atraída por um segmento que cresce 40% ao ano.