Jornal Correio Braziliense

Economia

Juros sobem com piora da percepção de risco político e avanço do dólar

A piora na percepção de risco político pesou nesta segunda-feira nos mercados domésticos, trazendo alta os juros futuros e inclinação da curva a termo, em meio ainda ao avanço do dólar para R$ 4,16 no intraday e temores sobre o impacto para a economia brasileira das disputas comerciais entre a China e os Estados Unidos. Diferentemente do que se via nos últimos dias, quando a piora na renda fixa não era tão forte como nos demais mercados, o ritmo de cautela foi mais linear, dados os receios de que as tensões diplomáticas vindas das queimadas da Amazônia tenham impacto na economia, enfraqueçam o governo e comprometam a agenda de reformas. Contribuíram ainda para este sentimento os resultados amplamente negativos para o governo Bolsonaro trazido pela pesquisa CNT/MDA. As investigações realizadas no banco BTG se somam ao rol de notícias negativas internamente que favoreceram a redução da exposição ao risco prefixado. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fecha com taxa de 5,51%, de 5,439% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 6,441% para 6,59%. De volta ao nível dos 7%, a taxa do DI para janeiro de 2025 fechou a 7,06%, patamar mais elevado desde 2 de julho (7,10%), de 6,941% no ajuste de sexta-feira. O dólar à vista, depois de superar R$ 4,16 durante o dia, fechou em R$ 4,1395. O noticiário negativo encontra nos mercados um terreno mais fértil para prosperar também em função da agenda doméstica esvaziada e da falta de novidades em Brasília. Helena Veronese, economista-chefe da Azimut Wealth Management, afirma que embora a guerra comercial sino-americana siga como pano de fundo para a cautela, "hoje pesou o cenário político e a pesquisa CNT/MDA ruim para o governo". "Nessa hora o mercado começou a descolar do exterior e o DI subiu junto com o dólar", disse. "Nos últimos dias, a renda fixa confiava bem mais no cenário político e, por isso, tinha um estresse controlado", afirmou. Especialmente neste fim de semana, marcado por uma série de protestos pelo mundo contra a política ambiental brasileira, o presidente Jair Bolsonaro subiu o tom contra o presidente francês, Emmanuel Macron, elevando os temores do mercado sobre possíveis boicotes contra produtos brasileiros e riscos para acordos comerciais. Além da pressão externa, o governo Bolsonaro perdeu popularidade, o que preocupa do ponto de vista das reformas. A pesquisa CNT/MDA mostrou que a avaliação negativa do governo subiu de 19% para 39,5% desde fevereiro. O índice de desaprovação pessoal de Bolsonaro chegou a 53,7%, ante 28,2% de fevereiro. O mercado teme ainda desdobramentos das investigações em supostos esquemas de pagamento de propina e lavagem de dinheiro pelo BTG. Circula na imprensa relatório da Polícia Federal, com base em relatos dados por um informante que não teve sua identidade revelada, a informação de que o BTG teria uma espécie de "Departamento de Operações Estruturadas" para este fim. O banco nega "veementemente" que tenha cometido qualquer irregularidade, e classifica as operações mencionadas como "fantasiosas".