;O desemprego desempenhou papel importante no aumento da desigualdade durante esse período que inclui a recessão de 2015 e 2016, a maior já documentada, interrompendo o processo de redução da concentração da renda que vinha sendo registrado desde o início dos anos 2000;, comentou o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, responsável pela realização do estudo A escalada da desigualdade. ;A renda caiu junto com a desigualdade nesse período em meio à brutal desaceleração da economia. E esse aumento da concentração ajuda explicar a perda do bem-estar social;, completou.
Renda
O estudo mostra que os 10% mais ricos tiveram incremento de 2,55% na renda. Já renda da metade mais pobre da população encolheu 17,1%. A vendedora de roupas, Isabel Alves, 60 anos, moradora da Cidade Estrutural, sabe muito bem o que é essa desigualdade. Natural do Maranhão, vive no Distrito Federal há mais de 40 anos e trabalhou muito. Vendeu até balinhas na rua para que os filhos não sofressem as dificuldades que ela mesma passou quando era criança. ;Meu pai sempre fez de tudo para a gente não passar fome, mas nunca tivemos nada. Lutei e sofri pelos meus filhos. Hoje eu tenho orgulho deles;, disse. Para Hilda Batista, 57, que trabalha como vendedora em um centro comercial no Lago Sul, frequentado por pessoas de renda alta do DF, a desigualdade é o lado triste no nosso país. ;É como um câncer;, lamentou.
De acordo com o levantamento da FGV, nem mesmo em 1989, quando foi registrado o pico histórico da desigualdade, houve uma concentração de renda por um período tão longo. Para Neri, apesar de o ritmo de crescimento da desigualdade ter diminuído, ainda não é possível afirmar que o pior já passou. ;Não sou particularmente pessimista. Olhando para trás, temos uma situação muito séria de aumento da desigualdade por um extenso período, mas há uma pequena melhora no quadro;, explicou.
*Com colaboração de Gabriel Pinheiro