A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) perdeu o patamar dos 100 mil pontos e acumula queda de 4,75% na semana. De 8 a 14 de agosto, a destruição de riqueza no mercado de capitais passou dos R$ 125 bilhões. No pregão de ontem, o Ibovespa fechou em queda de 1,2% aos 99.057 pontos, mas o saldo poderia ter sido pior. Na mínima, o principal índice da B3 chegou a cair mais de 2%, a 98.200 pontos.
O volume negociado ficou em R$ 21 bilhões. Com isso, fechou a sessão no menor patamar desde 17 de junho, antes da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados, quando ficou em 97.623 pontos. O dólar caiu 1,26% cotado a R$ 3,99, na segunda queda seguida, após o anúncio do Banco Central de que intervirá no mercado de câmbio, com uma oferta simultânea de dólar à vista ; a primeira desde fevereiro de 2009 ; e de contratos de swap reversos, a partir de 21 de agosto. Vai vender US$ 500 milhões à vista.
Para os especialistas, a Bolsa sofreu o chamado flight to quality, quando investidores vendem ações e buscam ativos mais seguros. A principal pressão negativa no mercado brasileiro veio de Petrobras e Vale, que refletem o desempenho negativo das commodities. Em nível global, as notícias de que o presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, estão em contato para tentar um acordo comercial acalmaram os mercados.
Depois de afirmar que taxaria todos os produtos chineses a partir de setembro, acirrando a guerra comercial entre os dois países, Trump voltou atrás. O recuo garante que os consumidores americanos não enfrentem preços muito altos nas compras de Natal, sobretudo de brinquedos e smartphones. Com isso, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York voltou a ficar positiva, com alta de 0,39%. Na semana, as bolsas do mundo acumulam queda de 2,43%.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton, grande parte do efeito na Bolsa brasileira é da guerra comercial. ;Afetou o nível de atividade de todos os países. Apesar de sinalizar uma melhora, está se consolidando um sentimento de que a Bolsa já avançou muito e está na hora de realizar lucro;, explicou. Para Perfeito, no Brasil, os juros muito baixos deixaram de ser atraentes para os investidores .
;Os investidores estão saindo de ativos de risco no Brasil e indo para títulos públicos norte-americanos. Indicadores de desaceleração econômica, principalmente da Alemanha, dos EUA e da China, provocaram o desânimo dos investidores;, avaliou o economista da G2W Investimentos Ciro Almeida.
Moeda
Para ele, a atuação do Banco Central brasileiro com os leilões de dólar à vista é importante para desacelerar o preço da moeda. ;É uma maneira de conter alta do dólar ocasionado pela escassez na Argentina e, como uma atuação na política monetária tem influência, faz com que o câmbio mantenha o patamar;, disse.
Mesmo com os mercados mundiais tendendo para a perda, o diretor da corretora coreana Mirae Asset, Pablo Spyer, afirmou que tem esperança de que os norte-americanos escapem do recuo global. ;Há um sentimento de que o consumidor americano pode salvar os Estados Unidos de um encolhimento mais forte do que o esperado com consumo, por isso melhorou um pouco a bolsa lá fora com os números do varejo refletindo a recente trégua da guerra comercial com a China;, analisou.
Para Luis Sales, analista de mercado da Guide Investimentos, o cenário brasileiro é muito dependente de poucas ações, como as da Petrobras e da Vale, que têm os maiores pesos. ;Ambas fecharam o dia com quedas em torno de 3%;, disse.
* Estagiárias sob supervisão de Rozane Oliveira