“Um dos erros foi não considerar a desigualdade brasileira. A maioria da população não tem capacidade de poupança. Não consegue poupar. O indivíduo sabe que tem que economizar dinheiro, mas não tem como. A educação financeira pecou porque não começou pela educação previdenciária. Essas pessoas não conseguem poupar, mas elas têm que ser incluídas na Previdência e, hoje, temos mecanismos para incluí-las”, afirma.
Mara explica que, como muitos não têm capacidade de poupança, por receber pouco, é necessário que a Previdência de todos esteja formalizada. “Convivo com pessoas que prestam serviços no meu dia a dia, e elas não são formalizadas. Conversei com algumas, já dei palestras e escuto que essas pessoas têm medo de se formalizar”, diz. Para ela, o fato mostra que a falta de informação e instrução das pessoas mais pobres pode causar problemas na vida financeira de todas elas.
Formalização
Será necessário muito empenho para reverter esse quadro. “Hoje, há formas disso acontecer. A verdade é que a grande maioria não vai precisar de poupança, porque a renda é tão baixa, que o teto (de aposentadoria e pensão pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social, INSS) cobre o que essas pessoas ganham. Mas é importante que elas se formalizem e que mesmo a dona de casa pague a Previdência oficial para o governo”, destaca Mara.
No entender dela, é preciso defender a necessidade do investimento na Previdência Social, cuja reforma deve ser ratificada pelo Senado até o fim de setembro ou início de outubro. “A educação previdenciária é o começo de tudo, e ela é para todo mundo”, completa. Segundo a diretora da agência MyNews, a prioridade do país deve ser melhorar a renda da população.
Ele ressalta, porém, que, quando as condições do país estiverem melhores — há quase 13 milhões de desempregados —, a mesma população precisará de mais informações sobre o crédito. “A verdade é que a grande maioria dos brasileiros vai precisar do crédito para prosperar. A dívida é legítima, desde que o cidadão saiba se endividar e tenha capacidade para o pagamento”, pontua.
Esforço
Para Mara, a educação financeira está errada em colocar o crédito como vilão. Ela explica que todos têm culpa pelas altas taxas de juros cobradas no Brasil de consumidores e empresas. “Acho que, nos últimos anos, o Banco Central tem feito um esforço grande, reduzindo compulsório (recursos que os bancos são obrigados a repassar à autoridade monetária) e estimulando concorrência, por exemplo. Mas nós, consumidores, precisamos ter cidadania financeira e fazer a nossa parte, nos informando corretamente e utilizando instrumentos como portabilidade de crédito, só para citar um exemplo, para fazer a concorrência funcionar”, afirma.
Na visão de Mara, mesmo as pessoas com um nível mais elevado de renda devem se precaver no período que o Brasil vive. O país está na expectativa de uma reforma da Previdência, e isso pode exigir ainda mais dessas pessoas. A jornalista acredita que, para o topo da pirâmide manter o mesmo padrão de vida após a aposentadoria, o esforço será grande. “A boa notícia é que produtos e serviços na área de investimentos melhoraram muito nas últimas décadas. Estão mais acessíveis, mais transparentes e cada vez mais aumenta o cardápio para investidores de todos os tamanhos”, completa.