“Esse é um grande desafio em um país de mais de 200 milhões de pessoas”, afirma Moura. Explicar para a população de forma didática a diferença entre a taxa cobrada pelos bancos no cartão de crédito e no cheque especial, superior a 300% ao ano, e a taxa básica de juros (Selic), de 6% anuais, é mais um desafio.
Sem intervenção
Moura lembra que o custo do crédito está caindo, sem nenhuma medida intervencionista. Simplesmente porque a competição se expandiu e aumentaram as opções de meios de pagamento. “Uma coisa muito importante será o sistema de pagamento instantâneo, desenvolvido pelo Banco Central, com previsão de ser colocado no ar no final do ano que vem. O mercado está povoado de novidades “, ressalta.
O problema, explica o diretor do BC, é que todas as novidades para ampliar a competição bancária e incentivar a redução dos juros encontrarão clientes com baixa formação financeira. “Atualmente, 86% dos brasileiros adultos têm algum relacionamento com o sistema, enquanto, nos países europeus, esse índice está acima de 97%, alguns, mais de 99%”, diz.
Não é só. “O cidadão precisa ter conhecimentos, habilidades e atitudes que o beneficiem e que não o punam. Que sejam motivo de satisfação e não de preocupação”, diz Moura. Esse conhecimento, no futuro, trará impactos positivos na economia. “Cliente mais educado traz mais concorrência. Pesquisa mais, contesta mais o banco, procura mais, usa mais portabilidade, por exemplo. Isso acaba sendo benéfico. Juntando concorrência e menor inadimplência, eu reduzo, seguramente, o custo do crédito”, afirma.
Desafios
Entre os desafios para baixar os juros, Maurício Moura cita o tamanho da população, as restrições orçamentárias, o limite geográfico e a baixa frequência de contato do BC. Para resolvê-los, a ideia é buscar grandes lucros (atingindo o maior número possível de pessoas), fundos públicos e privados, para fazer frente à restrição orçamentária, e parcerias efetivas. A autoridade monetária tem a agenda BC#, com várias ações, como levar educação financeira para escolas do ensino fundamental e médio. Nesse caso, explica o diretor do BC, a previsão é de chegar a 22 milhões de pessoas, com mecanismos de educação financeira. “No ano que vem, teremos um piloto para alunos em seis estados. E, em 2021, vamos levar a todas as escolas brasileiras”, diz.
As conversas para parcerias com o setor financeiro, garante Moura, estão avançando. “O sistema financeiro tem capilaridade. Está em todos os municípios do Brasil. Em breve, teremos ações concretas para divulgar, que envolverão 144 milhões de pessoas”, avisa. Ele cita, ainda, o problema dos superendividados. O BC não tem dados detalhados porque não existe um conceito para essa categoria. “Estamos justamente trabalhando nessa conceituação para saber quantos, dos 63 milhões de negativados no país, estão superendividados. Vamos ter ações concretas a partir de 2020 para esse público, como também para as pessoas de baixa renda”, avisa.
Ele se refere aos cerca de 76 milhões de carentes registrados no cadastro único do governo federal. “Vamos entender essas pessoas, seus desejos, suas necessidades, no que o sistema não está provendo, e dar uma solução adequada para seu perfil econômico”, promete. Moura destaca ainda que o BC vai inaugurar o primeiro museu de economia, que será presencial e virtual. “Poderá ser acessado em qualquer lugar do globo”, diz.