Economia

Empresa chinesa é acusada de explorar mão de obra jovem

Grupo que participa da criação do assistente de voz Alexa é denunciada por submeter jovens de 16 a 18 anos a jornadas excessivas, sob pressão de mestres

Paula Pacheco
postado em 12/08/2019 06:00

Acusação foi investigada pela Amazon, do empresário Jeff Bezos, que prometeu corrigir condições ilegais no trabalhoSão Paulo ; O dispositivo Alexa, da Amazon, ainda está em fase de testes e não tem data para ser lançado no Brasil, mas, para que chegue a outros mercados, o assistente virtual de voz passa pelas mãos de adolescentes chineses, submetidos ao trabalho durante exaustivas horas, na maioria das vezes, de forma ilegal. A denúncia foi feita pelo China Labor Watch, organização não governamental (ONG) responsável por investigar a situação trabalhista naquele país, e, de acordo com a instituição, ocorre em uma fábrica chinesa.


Os jovens, segundo a ONG, têm entre 16 e 18 anos. De acordo com a revelação feita em primeira mão pelo jornal britânico The Guardian, evidências apontam que pelo menos 1 mil jovens estão nessas condições na função de ;estagiários;. O caso teria ocorrido na fábrica da Foxconn em Hengyang, na região central da China.

No país asiático, há autorização para que as fábricas empreguem estudantes com 16 anos ou mais. No entanto, eles não podem trabalhar à noite ou fazer horas extras, informa o levantamento do China Labor Watch. Outra denúncia feita pela ONG e comprovada por meio de documentos dá conta de que as escolas foram remuneradas para enviar estudantes para as fábricas. Além disso, os professores teriam sido convidados a incentivá-los a cumprir jornada extraordinária, apesar de alguns alunos não terem se interessado pelo projeto.

;Líderes dos turnos noturnos devem fazer o check-in com estudantes e professores com mais frequência e relatar qualquer situação anormal para que os professores possam persuadir os alunos a fazerem horas extras;, informam notas de uma reunião recente da área de recursos humanos na fábrica e revelado pelo China Labor Watch.

A ONG denunciou ainda que, caso os jovens se neguem a trabalhar mais horas, os professores foram instruídos a apresentar carta de demissão em seu nome, como mostra relatório da reunião. Aos 17 anos, Xiao Fang conta que estuda computação, começou a trabalhar na linha de produção Amazon Echo no mês passado e recebeu a tarefa de aplicar um filme protetor em cerca de 3 mil Echo Dots (assistente pessoal da Amazon que tem a capacidade de controlar dispositivos inteligentes em casa) por dia.

No começo, sua professora informou que a jornada seria de oito horas, cinco dias por semana, mas que, desde então, havia mudado para 10 horas diárias (incluindo duas horas extras), durante seis dias por semana. ;No começo, eu não estava muito acostumado a trabalhar na fábrica, e agora, depois de trabalhar por um mês, eu me adaptei;, disse em entrevista aos pesquisadores do China Labor Watch. ;Mas trabalhar 10 horas por dia, todos os dias, é muito cansativo;.

A professora de Fang teria incentivado o trabalho por mais horas e argumentou que, se isso não ocorresse, afetaria sua graduação e as chances de conseguir uma bolsa de estudos. ;Eu tentei dizer ao gerente da minha linha que eu não queria trabalhar horas extras;, disse. ;Mas o gerente notificou minha professora e a professora disse que, se eu não trabalhasse horas extras, não poderia fazer estágio na Foxconn e isso afetaria meus pedidos de graduação e bolsa de estudos na escola. Eu não tinha escolha, só aguentava isso.;

Coube à Amazon, de Jeff Bezos, enviar uma equipe para investigar as condições de trabalho na unidade de produção. Em nota à imprensa, a Foxconn reconheceu que os estudantes estavam empregados ilegalmente e que tomaria medidas imediatas para corrigir a situação. No entanto, disse a empresa chinesa, o seu programa de estágio foi criado para dar aos alunos uma experiência prática de trabalho.

;Duplicamos a supervisão e o monitoramento do programa de estágio com cada escola parceira relevante para garantir que, sob nenhuma circunstância, os estagiários terão permissão para trabalhar horas extras ou à noite;.

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