O mercado de juros futuros doméstico sofreu impactos muito limitados nesta sexta-feira, 2, da onda de aversão global de aversão ao risco desencadeada pelo recrudescimento das tensões comercias entre China e Estados Unidos. A despeito da forte depreciação do real em dia de alta do dólar frente a divisas emergentes, as taxas dos principais contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) apresentaram oscilações modestas.
Entre os contratos mais curtos, ligados diretamente às expectativas para o rumo da taxa Selic, houve um pequeno viés de alta, com investidores realizando lucros após a forte queda de quinta, quando houve um realinhamento à expectativa de um afrouxamento monetário mais extenso. Já as taxas intermediárias e longas encerraram o dia ao redor da estabilidade, mostrando certa blindagem em relação ao ambiente externo de fuga do risco.
Segundo o gestor de recursos Paulo Petrassi, uma série de fatores domésticos protege, em certa medida, o mercado de juros do estresse internacional. Em primeiro lugar, aparece o aceno do Banco Central com mais cortes da taxa Selic com o comunicado 'dovish' do Copom. Em seguida, há expectativa positiva em torno da aprovação rápida do segundo turno da reforma da Previdência na Câmara e uma tramitação pouco acidentada no Senado, o que pode atrair mais recursos para a renda fixa. Por fim, as expectativas de inflação estão muito bem ancoradas e a economia dá sinais ainda muito tímidos de retomada.
Após o fechamento, o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, informou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcou oito sessões de plenário para discussão e votação em segundo turno da matéria entre terça e quinta-feira da próxima semana.
"Os juros podem até subir pontualmente com essa questão da guerra comercial, mas o pano de fundo é favorável à redução dos prêmios, principalmente nos longos", afirma Petrassi. "A agenda de reformas é positiva e, se Bolsonaro não atrapalhar, não tem motivo para o mercado estressar", brinca o gestor.
A surpresa com o tom suave do comunicado da decisão do Copom fez com que as taxas curtas fechassem a semana com recuo expressivo. O DI para janeiro de 2020 - que capta mais diretamente às expectativas para o nível da Selic no fim do ano - caiu cerca de 10 pontos-base no período. Em 30 dias, o recuo é de cerca de 50 ponto-base. Segundo operadores, as taxas futuras já espelham cerca de 70% de chances de redução da Selic em 0,50 ponto em setembro e um ciclo total de afrouxamento superior a 1 ponto porcentual.
No fim da sessão regular, DI para janeiro de 2020, estava a 5,505%, ante 5,501% no ajuste de quinta. Já o DI para janeiro de 2021 subiu de 5,399% para 5,42%, e o DI para janeiro de 2023, de 6,35% para 6,37%. Na ponta longa da curva, DI para janeiro de 2025 fechou estável, a 6,91%.