São Paulo ; A guerra protagonizada pelo presidente Donald Trump e o chinês Ren Zhengfei, fundador da gigante de tecnologia Huawei, parece não ter passado de mais uma esquete populista do líder americano. Embora a companhia tenha estimado que suas perdas chegariam a US$ 30 bilhões com as restrições impostas pelos Estados Unidos, a Huawei teve resultados financeiros positivos no segundo trimestre do ano, entre abril e junho.
A companhia divulgou ontem, em seu balanço, que houve aumento de 23% de receitas na primeira metade de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado. ;Os resultados foram uma ótima surpresa para todos nós e uma resposta aos que achavam que poderiam nos derrubar;, disse Zhengfei, em encontro com analistas e empresários chineses.
A receita da companhia chegou a 401,3 bilhões de yuans chineses, o equivalente a R$ 220 bilhões. Grande parte desse montante veio dos negócios de smartphones, mas principalmente da liderança que a Huawei exerce no mercado de telecomunicações e de implementação da tecnologia 5G. O predomínio da Huawei tem sido a principal motivação das restrições de empresas americanas fazerem negócios com a companhia chinesa. De acordo com o governo americano, a Huawei representa riscos à segurança nacional.
Em smartphones, a empresa ainda teve crescimento de 24% nas receitas, com 118 milhões de celulares enviados no mundo todo desde o começo do ano. De acordo com o presidente da Huawei, Liang Hua, as restrições dos EUA frearam o crescimento, mas foram ;controláveis;.
No mês passado, a Huawei havia previsto faturar menos de US$ 100 bilhões neste ano, mas as cifras já estão sendo revistas para algo entre US$ 125 bilhões e US$ 130 bilhões. ;Protegemos apenas o motor e os tanques de combustível, mas não protegemos outras partes;, comparou Zhengfei em entrevista à Bloomberg, na China.
Apesar dos bons resultados, o presidente da Huawei diz que haverá desafios no próximo semestre. ;Na segunda metade deste ano e de 2020, ainda vamos enfrentar essas dificuldades;, disse Liang. O executivo completou, ainda, que a empresa perdeu terreno em alguns mercados. Simultaneamente à divulgação dos resultados financeiros, o site The Information noticiou que a Huawei estava trabalhando com o Google em um alto-falante inteligente, no estilo Amazon Echo e Google Home, antes da proibição de Trump.
O dispositivo deveria ser revelado em setembro deste ano, durante a IFA, evento de tecnologia de consumo na Alemanha. De acordo com a reportagem do Information, um funcionário que preferiu se manter anônimo revelou os planos. Além disso, o histórico de parcerias do Google corrobora a história ; ambas as empresas vinham se juntando para o lançamento de produtos, como ocorreu com os últimos smartphones da linha Nexus. Além disso, a chinesa Lenovo é uma parceira do Google no mercado de dispositivos inteligentes.
Perspectivas
Com os bons resultados, as notícias sobre o futuro da Huawei passaram a ser positivas, e colocam pressão sobre o decreto assinado pelo presidente Donald Trump, que efetivamente proibiu qualquer companhia americana de fazer negócios com a gigante chinesa, além de colocá-la na lista de entidades não confiáveis do Departamento de Comércio da Superpotência do Ocidente.
Agora, empresas como Google, Intel e Qualcomm, que obedeceram à ordem presidencial, questionam se a estratégia ainda faz sentido, visto que a marca avança em todo o mundo. A ARM, fabricante de componentes de processadores de celulares, que atua intensamente com o chipset Kirin, da Huawei, que chegou a cortar relações, e a Microsoft, que chegou a remover laptops da Huawei de suas lojas on-line, poderão rever suas decisões.