As taxas de juros médios no cartão de crédito e no cheque especial ficaram mais salgadas em junho e ultrapassaram os 300% ao ano, de acordo com dados do Banco Central. O cartão de crédito cobrou dos consumidores 300,1% ao ano, percentual mais alto que o de maio, de 299,8%. Nos seis primeiros meses de 2019, os juros do cartão cresceram 14,7 pontos percentuais, quando confrontados com dezembro de 2018 (285,4%). O cheque especial, mais caro ainda, passou de 320,9%, para 322,2%. No primeiro semestre, aumentou na média 9,6 pontos percentuais. Em dezembro de 2018, estava em 312,6% ao ano.
Para o economista Miguel Ribeiro Oliveira, diretor executivo de Pesquisas Econômicas da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), ;tecnicamente, o aumento nos juros não tem justificativa;. ;Não houve alta na taxa básica (Selic) para explicar o aumento para as famílias. Atribuo esse movimento à atitude de prevenção das instituições financeiras, se protegendo de uma possível alta da inadimplência lá na frente;, destacou.
O porteiro Mauro Vieira, 58 anos, viu uma dívida de cartão de crédito virar uma bola de neve. As faturas de cerca de R$ 3 mil chegaram aos R$ 19 mil. ;Era minha filha quem sempre pagava as faturas pela internet. Um dia, ela esqueceu e, sem me contar, começou a pagar o mínimo da fatura. Quando fomos ver, havíamos acumulado uma dívida de R$ 19 mil;. Para quitar o débito, Vieira usou uma reserva de emergência e pegou mais R$ 11 mil em empréstimo na conta da esposa. ;Agora estamos pagando parcelas de R$ 1.278, e ainda devemos R$ 7 mil;, contou. Depois do susto, ele evita compras no cartão de crédito.
Pelas estatísticas do BC, apesar de a economia continuar patinando, o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 3,3 trilhões, em junho. No primeiro semestre, a carteira total aumentou 1,2%, com elevações no crédito livre a famílias e empresas, de 6,8% e 1,5%, respectivamente. Em 12 meses, o crédito total acumulou 5,1%, com destaque para o de pessoas físicas (0,6%), de R$ 1,9 trilhão. As operações com pessoas jurídicas ficaram estáveis (0,1%), com saldo total de R$ 1,4 trilhão.
Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, explicou que mesmo com a situação de baixo desenvolvimento econômico, houve redução gradual de desempregados e leve aumento dos salários. ;Esse incremento da massa salarial é a fonte do aumento do crédito para as famílias. E um dos maiores crescimentos foi no crédito consignado (22,8%, em junho). Embora ainda alta, essa é a menor taxa da série histórica, iniciada em 2004;, falou. Rocha disse ainda que a alta dos juros do cheque especial foi residual. ;Apenas uma instituição financeira aumentou suas taxas em junho;, contou.
* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira