São Paulo ; Durante todo o mês, o empresário Alexandre Lima, sócio da ALX Câmbio, gastou mais horas do que de costume trabalhando em seu escritório, na Avenida Paulista. A demanda por moeda estrangeira, principalmente dólar e euro, disparou desde a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.
;Havia uma demanda represada, por conta das incertezas antes da reforma;, relata Lima. ;Com a expectativa de que a moeda americana vai oscilar menos, muitos brasileiros estão garantindo a compra para as férias no segundo semestre, período que deve ser bem melhor do que a segunda metade de 2018 e que o primeiro semestre deste ano;, explica. Sua estimativa é de uma alta de cerca de 30% nos negócios até dezembro.
O otimismo de Alexandre Lima reflete o ambiente positivo para diversos setores da economia, principalmente os que estão atrelados ao câmbio, como o turismo de lazer e de negócios. ;O resultado tem sido bom, mesmo com o clima empresarial um pouco negativo, com empresas ainda reticentes em retomar investimentos no país;, afirma Carlos Prado, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens Corporativas (Abracorp). ;Mas a expectativa de dólar mais baixo sempre favorece a redução de custo das empresas e o planejamento de novos eventos.; De acordo com o representante da entidade, as viagens de negócios no Brasil cresceram 14,7% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo intervalo de 2018.
O dólar mais barato coloca combustível em uma indústria bilionária. As vendas de passagens aéreas e rodoviárias, diárias de hotéis, locação de veículos e eventos de turismo corporativo movimentaram R$ 5,57 bilhões no primeiro semestre, contra R$ 4,85 bilhões apurados nos primeiros seis meses do ano passado.
Para Prado, o resultado veio em linha com o esperado pelas agências de viagens, que já previam um crescimento de dois dígitos nas vendas. O maior segmento no turismo corporativo brasileiro, o aéreo nacional, cresceu 24,8% no primeiro semestre, atingindo R$ 2,23 bilhões em vendas totais. Mas as incertezas que dominaram as conversas antes da votação da reforma da Previdência comprometeram os números influenciados pelo comportamento do dólar. As vendas de bilhetes aéreos internacionais tiveram queda de 1,7%, para R$ 1,44 bilhão. ;O brasileiro está cada vez mais aprendendo que o planejamento de viagem inclui planejar também compra de moeda", diz Juvenal Marcelo dos Santos, superintendente de varejo do Grupo Travelex Confidence. ;Ao comprar aos poucos, consegue-se diluir os riscos inevitáveis das variações cambiais.;
Outro fator que deve favorecer o turismo, tanto interno quanto externo, é a redução do custo das companhias aéreas com querosene. Como o combustível é precificado em dólar, há uma tendência de redução do preço das passagens no segundo semestre. Recentemente, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, afirmou que isso deve começar a ocorrer a partir de setembro, em decorrência do aumento da oferta de voos da Gol, Latam e Azul. Outros motivos que podem influenciar as vendas no setor são a chegada de mais aeronaves e de novas empresas.
Apesar da previsão de queda, os preços das passagens subiram após o encerramento das operações da Avianca Brasil. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de abril de 2018 a abril de 2019, as passagens no Brasil ficaram 30,9% mais caras. O número é ainda mais alto em rotas que a Avianca deixou de operar, que encareceram 39,9%. No acumulado do primeiro semestre, foram emitidos 991,7 mil bilhetes aéreos. O valor médio da passagem aérea subiu 17,3%, para R$ 737,22. Em bilhetes, a Gol liderou o mercado, respondendo por 38,7% do total dos voos nacionais, seguida pela Azul, com 30,4%. A Latam caiu para a terceira posição, com 25,2% dos bilhetes emitidos. A Avianca Brasil, que operou até o fim de maio, ficou com 5,3% de participação.
Resorts
Após registrar queda de ocupação durante o primeiro trimestre de 2019, em razão da diminuição de turistas argentinos, os resorts fecharam o semestre com resultados positivos e crescimento. Os bons números do segundo trimestre tiveram bases em dois fatores: a retomada do segmento de eventos, muito prejudicado em 2018, e pelo surpreendente ;efeito Avianca;. ;Os dados do segundo trimestre mostraram um grande crescimento de ocupação nos fins de semana nos grandes centros, já que muitos deixam de comprar destinos distantes para passar férias em resorts mais próximos;, disse Ricardo Domingues, diretor executivo da Associação Brasileira de Resorts (ABR). ;Isso é reflexo do aumento dos bilhetes aéreos, que fez com que as pessoas procurassem resorts no mesmo estado. Na Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerias percebemos esse aumento. Agora, com o dólar mais baixo, a tendência é aquecer todo o mercado.;
"Os dados do segundo trimestre mostraram um grande crescimento de ocupação nos fins de semana nos grandes centros, já que muitos deixam de comprar destinos distantes para passar férias em resorts mais próximos"
Ricardo Domingues, diretor executivo da Associação Brasileira de Resorts